ABRUPTO

1.1.12


PALAVRAS DE 2011: Introdução


Em 2011, a língua portuguesa foi invadida por expressões com origem no jargão económico, algumas usadas mesmo em inglês, que depois os jornalistas, com a apetência pelas palavras que parecem finas, dão curso corrente. Não é nada de novo - lembram-se dos "remédios" e das "imparidades" que gozaram de uma breve fama aquando da questão do BPN e do BPP? - mas representam uma moda significativa dos tempos em que a política parece sofrer um ocaso face à emergência da tecnocracia. Tudo isto é perigoso para a democracia porque esconde uma realidade básica: o economês-tecnocratês é um politiquês, uma linguagem abastardada da má política. Mistura eufemismos, duplicidades, dolo, "engsoc" no sentido orwelliano e faz circular a pior das ilusões: a de que as soluções para os problemas nacionais e europeus dependem da actuação de técnicos e sábios, desempecilhados da "tralha" da política.

Os grandes produtores de palavras e expressões em 2011 foram, como é hábito em Portugal, os poderosos. Os poderosos da política, do dinheiro e dos media, todos irmanados numa epidemia de "pensamento único" como de há muito não se via. Foram Passos Coelho e Vítor Gaspar (vocabulário em "economês"), o Bloco de Esquerda e a extrema-esquerda (Precários, indignados), José Sócrates (o "gestor da dívida"), António José Seguro ("almofada"), e os média com a sua capacidade repetidora e de criar lugares-comuns (um exemplo é a generalização do nome troika). O resto, uma pequena parte foi gerada pela realidade, a mais poderosa fonte de palavras ainda fiéis ao seu sentido corrente, sem dolo, apenas às vezes com alguma genuína ilusão. Desempregado é desempregado. Pobre é pobre. Penhora é penhora. Não ter dinheiro é não ter dinheiro.


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© José Pacheco Pereira
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