Em
2011, a língua portuguesa foi invadida por expressões com origem no
jargão económico, algumas usadas mesmo em inglês, que depois os
jornalistas, com a apetência pelas palavras que parecem finas, dão curso
corrente. Não é nada de novo - lembram-se dos "remédios" e das
"imparidades" que gozaram de uma breve fama aquando da questão do BPN e
do BPP? - mas representam uma moda significativa dos tempos em que a
política parece sofrer um ocaso face à emergência da tecnocracia. Tudo
isto é perigoso para a democracia porque esconde uma realidade básica: o
economês-tecnocratês é um politiquês, uma linguagem abastardada da má
política. Mistura eufemismos, duplicidades, dolo, "engsoc" no
sentido orwelliano e faz circular a pior das ilusões: a de que as
soluções para os problemas nacionais e europeus dependem da actuação de
técnicos e sábios, desempecilhados da "tralha" da política.
Os
grandes produtores de palavras e expressões em 2011 foram, como é hábito
em Portugal, os poderosos. Os poderosos da política, do dinheiro e dos media,
todos irmanados numa epidemia de "pensamento único" como de há muito
não se via. Foram Passos Coelho e Vítor Gaspar (vocabulário em
"economês"), o Bloco de Esquerda e a extrema-esquerda (Precários,
indignados), José Sócrates (o "gestor da dívida"), António José Seguro
("almofada"), e os média com a sua capacidade repetidora e de criar
lugares-comuns (um exemplo é a generalização do nome troika). O
resto, uma pequena parte foi gerada pela realidade, a mais poderosa
fonte de palavras ainda fiéis ao seu sentido corrente, sem dolo, apenas
às vezes com alguma genuína ilusão. Desempregado é desempregado. Pobre é
pobre. Penhora é penhora. Não ter dinheiro é não ter dinheiro.