É o progressivo controlo da comunicação social portuguesa por grupos económicos angolanos que, onde tocam e entram, acabam com a possibilidade de se dizer o que se disse atrás. Em matéria de informação não brincam em serviço e retaliam. Que o diga Rafael Marques e a sua denúncia dos “diamantes de sangue” e outras que faz na Internet da corrupção da elite angolana e da cumplicidade activa dos portugueses com as operações de branqueamento, fuga de capitais, cobertura política, etc., e que são bastante silenciadas em Portugal. A RTP África não tem jornalismo sobre Angola, senão era corrida de lá, a RTP idem, o Sol tece loas ao dinheiro angolano a que pertence e silencia tudo de sensível sobre a elite de poder, e, a continuar assim, pode vir a haver um canal privatizado da RTP também angolano. Este caminho é muito, muito preocupante.
(Enviada a 17 para a revista, publicada a 19 de Janeiro.)
RDP acaba com espaço de opinião que serviu de palco a críticas duras a Angola
O jornalista Pedro Rosa Mendes
confirmou, em declarações ao PÚBLICO, ter sido informado, por telefone,
que a sua próxima crónica, a emitir na próxima quarta-feira no programa
“Este Tempo”, da Antena 1, será a última. “Foi-me dito que a próxima
seria a última porque a administração da casa não tinha gostado da
última crónica sobre a RTP e Angola”, diz o jornalista, por telefone, a
partir de Paris.
“A ser verdade, esta atitude é um acto de
censura pura e dura”, sustenta o jornalista, que aborda nessa crónica a
emissão especial que a RTP pôs no ar na segunda-feira, 16 de Janeiro, em
directo a partir de Angola. A chamada telefónica que serviu para
anunciar-lhe o fim deste espaço de opinião foi feita por “um dos
responsáveis da Informação” da Antena 1, continua o jornalista, que não
quis especificar quem daquele departamento lhe comunicou aquela decisão.
Rosa
Mendes critica a emissão do programa televisivo Prós e Contras da RTP
feita a partir de Angola, com a participação do ministro português que
tutela a comunicação social, o ministro-Adjunto e dos Assuntos
Parlamentares, Miguel Relvas. Porém, o jornalista entende que “com tudo o
que está em causa, foi uma crónica contida”. Aliás – prossegue –, a ser
verdade que tenha sido dispensado por causa do teor desta crónica, essa
decisão seria “muito estranha”, porque ele não foi “a única pessoa a
ficar desagradada com a natureza e o conteúdo da emissão da RTP”. “Houve
outras opiniões negativas nestes últimos dias”, aponta.
A crónica em causa
foi emitida a 18 de Janeiro e integra um espaço de opinião que a Antena
1 tem, com o nome de “Este Tempo”. É assegurado por cinco pessoas –
Rosa Mendes, António Granado, Raquel Freire, Gonçalo Cadilhe e Rita
Matos e, segundo Rosa Mendes, todos eles estariam a ser informados que a
crónica vai acabar. O PÚBLICO contactou João Barreiros, director de
Informação da Antena 1, e António Granado, um dos cronistas, sem
sucesso. Já Ricardo Alexandre, director-adjunto de Informação da Antena 1
e responsável pelo programa, disse não ter comentários a fazer.
A
crónica estava no ar há cerca de dois anos e os contratos terminariam
agora. Durante esse tempo, diz Rosa Mendes, nunca lhe foi dado nenhum
feedback dando a entender que houvesse temas que fossem tabu ou que
tivessem sido fixados “limites de censura”.
Na polémica crónica,
Rosa Mendes começa por recordar que a RTP “serviu aos portugueses” uma
emissão especial em directo de Luanda e à qual chamou “Reencontro” e “na
qual desfilaram, durante duas horas, responsáveis políticos,
empresários, comentadores de Portugal e de Angola, entre alguns palhaços
ricos e figuras grotescas do folclore local”. “O serviço público de
televisão tem estômago para muito, alguns dirão que tem estômago para
tudo, mas o reencontro a que assistimos desta vez foi um dos mais
nauseantes e grosseiros exercícios de propaganda e mistificação a que
alguma vez assisti”, continua. Carregando nas críticas, o jornalista
afirma que reencontrou nessa emissão, não um país irmão, mas “a falta de
vergonha de uma elite que sabe o poder que tem e o exibe em cada
palavra que diz”.
Rosa Mendes é um dos jornalistas portugueses
que mais escreveu sobre a corrupção em Angola. Foi, aliás, alvo de dois
processos judiciais por difamação, um dos quais por trabalhos editados
pelo PÚBLICO e em que o queixoso era o Presidente angolano, José Eduardo
dos Santos. O tribunal não deu razão ao líder de Angola, tendo a
Justiça também decidido a favor de Rosa Mendes no outro caso, em que o
queixoso era Arcadi Gaydamak, um milionário russo que tem passaporte
angolano e foi acusado de vender armas a Angola.
Nos cinco minutos e 34 segundos que dura a crónica, Rosa Mendes mistura
dados relativos à economia e à política do país com citações de alguns
outros especialistas que estudaram o que se passa naquele país, que usa
uma “maquilhagem sofisticada”, da qual se destaca “o batom da ditadura,
parafraseando o jornalista angolano Rafael Marques”. Este último, ou
alguém como ele, teria de estar presente num programa que fosse um
“reencontro digno para ambos os povos e ambas as audiências”, sustenta
Rosa Mendes. Alguém “que chamasse corrupção à corrupção e não, quase a
medo numa única pergunta – e passo a citar – ‘um certo tipo de
corrupção’, como fez Fátima Campos Ferreira”, a jornalista que apresenta
o referido programa da RTP e conduziu aquela emissão.