ABRUPTO

24.1.12


MEDO. MEDINHO



No meio do exercício de absoluta banalidade,-  o poder gosta da banalidade, - em que tudo foi mau, as declarações irrelevantes, a música mal ensaiada, o tipicismo de uma cozinheira angolana destinado a dar cor local, num hotel de luxo que seria um melhor retrato da realidade angolana, e de umas conversetas sobre “cultura” ao nível daquelas galerias de arte que vendem reproduções de um menino a chorar, lá houve uma pergunta mais que estudada, mais que prudente, mais que temerosa, sobre a corrupção, quase como se se pedisse desculpa de a fazer. Que a pergunta era um proforma, provavelmente negociado com o ministro (ele próprio envolvido em vários casos de corrupção),  está na forma artificial como tudo se desenvolveu, como se tudo fosse apenas um problema de “percepção” de estrangeiros que não conhecem Angola. Sim, havia de facto alguma corrupção, mas isso devia-se à burocracia. Sim, havia de facto alguma corrupção, mas isso devia-se à juventude do país e à guerra. Sim, era um “problema doméstico”, mas já há umas leis excelentes e duras que permitem combatê-la. Na sala estavam vários exemplos de gente que ganha umas centenas de dólares de salário formal e detêm fortunas de milhões. Isto num país em que a maioria da população vive na miséria e em que não há verdadeira indústria, apenas rendimentos de petróleo ou diamantes, controlados na sua distribuição pelo MPLA e pelo Presidente da República e a sua entourage.

Jornalismo? Deixem-me rir. 

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© José Pacheco Pereira
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