ABRUPTO

24.1.12


COISAS DA SÁBADO: PARA QUE SERVE A “INFORMAÇÃO” DA RTP?

Um bom exemplo da razão pela qual o governo pretende ficar com um canal informativo na RTP, a mais escusada das razões porque a SICN e TVI24 cumprem essa função, é porque o poder politico quer controlar a propaganda dos seus actos. O último Prós e Contras, realizado em Luanda, é um bom exemplo de como nada mudou desde as sessões de propaganda típicas de José Sócrates. Agora são com Miguel Relvas, antes eram com Sócrates, antes eram os aviõezinhos a levantar da OTA em videogame e agora é uma sessão que podia bem ter sido feita antes do 25 de Abril. Até o toque do folclore exótico a despropósito com umas pretas de tronco nu vestidas com os ademanes tribais, podiam bem passar num documentário do SNI. 

De facto, o que leva a RTP em aperto financeiro a enviar uma equipa à cidade mais cara do mundo, gastar tempo de satélite, deslocar pessoas e bens para acabar por fazer um pífio exercício de propaganda centrado nos estereótipos sobre a relação entre Portugal e Angola, bem longe de qualquer realidade? O que leva a tão deprimente e caro exercício de banalidade absoluta, a não ser dar tempo de antena a um ministro, por singular coincidência o mesmo que tutela a RTP, acolitado pelos mesmos de sempre, os mesmos que acompanhavam José Sócrates e lhe davam a mesma caução que agora dão a este governo como a darão a outro que venha a seguir? 

Eu compreendo que, sendo tudo tão mau e banal, por cá a propaganda não seja muito eficaz, mas o mesmo já não pode ser dito por lá. Por lá, há um efeito de poder neste pobre programa: nenhum membro da elite angolana poderia perceber que um ministro português fosse importante e poderoso se ele não andasse, como eles andam, com a televisão do estado à rédea. Relvas quis mostrar em Angola que por cá é poderoso, tão poderoso que traz a televisão pública à ilharga como qualquer general-empresário angolano faz com a TPA. Já não é a primeira vez que isto acontece: com o mesmo ministro em Moçambique, a falar à vontade das instruções que deu à Lusa para a cobertura de um colóquio em que participou e que, aliás, não correu bem lá, mas isso foi por cá foi silenciado.

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© José Pacheco Pereira
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