ABRUPTO

22.10.11


COISAS DA SÁBADO
EM DEMOCRACIA SÓ OS ELEITORES JULGAM OS RESULTADOS DE UMA POLÍTICA 


(ver aqui, aqui e aqui.)

O que significa ser “responsável” por um “crime” quando ele decorre duma política, errada e absolutamente irresponsável que nos pareça que seja, quando esta resulta de ideias sobre a governação, ou de ideologias? Nada a não ser que “criminalizemos” também as ideias e as ideologias. Em que base é que fazer muita despesa, ou deixar a despesa sem controlo, deixa de ser uma política para ser “crime”, admitindo que essas práticas despesistas não violam as leis em curso (se violarem é outro o problema)? Os socialistas encostaram-se a Keynes para fazerem disparar o deficit (verdade seja que depois de dois anos a tentarem controlá-lo na primeira parte do governo Sócrates, que convém não esquecer), mas o mesmo fez a Alemanha, a França e os EUA, como resposta inicial à crise financeira. É diferente a espiral gastadora em países como a Alemanha que tem uma base económica sólida e Portugal? Certamente que é, como também é verdade que a Alemanha travou logo e Portugal continuou a contraciclo a gastar. Mas é “crime” um socialista que acredita na virtude dos gastos públicos para manter o emprego e incentivar a economia, continuar a fazê-lo mesmo no fio da navalha da dívida? Eu acho que é um erro colossal, cujas consequências estamos a pagar duramente, mas “crime” não é. 

Raciocinemos por absurdo, que é sempre útil em casos como este. Vamos admitir que a actual política nos conduz a uma variante portuguesa da Grécia e que, no meio de grandes convulsões sociais, ganha as eleições um governo que se propõe por razões “patrióticas” ou de “justiça económica” sair do euro e denunciar a dívida. Não pode esse governo considerar “criminosa” a política da troika e colaboracionistas os seus executores, e que devem ir a tribunal todos os que a aplicaram? Então a “criminalização” deslocar-se-á do socialismo estatista gastador para o liberalismo anti-estatal destruidor do “estado do social”. Qual é a diferença quando se começam a julgar como casos de polícia ideias e políticas?

Nenhuma. Em democracia, quem julga as ideias e os políticos é o voto. Em democracia quem julga os crimes são os tribunais. Sair daí é sair da democracia.

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© José Pacheco Pereira
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