ABRUPTO

7.3.10


COISAS DA SÁBADO: FALTA DE ESPERANÇA E REFORMAS ANTECIPADAS



A vaga de reformas antecipadas que atravessa vários serviços públicos é um dos sinais mais preocupantes da falta de esperança dos portugueses e do seu medo do futuro. Mesmo perdendo alguma coisa, agarram-se ao que já têm com medo de daqui a um ano terem ainda menos ou nada. Este processo, para além de fazer estragos monumentais no orçamento da segurança social, retira do trabalho activo ao mesmo tempo muita gente com enorme experiência e rompe com a cadeia de transmissão de saberes em direcção aos mais novos que entram nas profissões. No caso dos professores, desertificou-se as escolas dos mais experientes, e noutros casos, como por exemplo, na Polícia Judiciária, decapitou-se áreas de combate à criminalidade em que não abunda gente sabedora e testada por muitos anos de acção.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)











Cheias no Ribatejo



A Lagoa de Óbidos : ontem e hoje. (António Leal)

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EARLY MORNING BLOGS

1751 - Two Rivers

Thy summer voice, Musketaquit,
Repeats the music of the rain;
But sweeter rivers pulsing flit
Through thee, as thou through the Concord Plain.

Thou in thy narrow banks art pent:
The stream I love unbounded goes
Through flood and sea and firmament;
Through light, through life, it forward flows.

I see the inundation sweet,
I hear the spending of the steam
Through years, through men, through Nature fleet,
Through love and thought, through power and dream.

Musketaquit, a goblin strong,
Of shard and flint makes jewels gay;
They lose their grief who hear his song,
And where he winds is the day of day.

So forth and brighter fares my stream,--
Who drink it shall not thirst again;
No darkness taints its equal gleam,
And ages drop in it like rain.

(Ralph Waldo Emerson)

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6.3.10

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COISAS DA SÁBADO: OBAMA NÃO VAI À LUA

Eu sei que em períodos de crise, fora de Portugal, olha-se mais para os dedos e menos para os anéis e que o programa espacial americano é visto como fazendo parte dos anéis pela actual administração de Obama. Obama resolveu por isso cancelar o programa de enviar de novo homens à Lua, que vinha de Bush. É verdade que há muita controvérsia sobre a relação custo-benefício da exploração espacial por humanos, em detrimento daquela que é feita por sondas e instrumentos. Há razão, do estrito ponto de vista cientifico, em canalizar os recursos para programas cujos resultados são muito maiores sem os custos e riscos das missões humanas. Mas a “conquista espacial” não é apenas uma questão científica, é também humana no seu sentido simbólico e, a prazo, de sobrevivência da espécie. Simbólico porque a predisposição de uma sociedade para aceitar os enormes gastos dos programas espaciais vem de se sentir representada na pegada de um astronauta na Lua, ou nas suas palavras ao descer um módulo lunar. E prático, muito prático, porque os planetas menos inóspitos do nosso sistema, Marte em particular, são o nosso caminho para encontrar recursos que aqui vão ficando escassos e sabe-se lá, a mais longo prazo, aí fazermos uma extensão da nossa Terra.

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LIVROS





(Sandra Bernardo)

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5.3.10


COISAS DA SÁBADO: BALANÇO



Como é que estão as escolas? Mal, com uma crise de autoridade do Ministério e bloqueadas. Saíram de uma e não estão dispostas a entrar em nenhuma outra. As ruínas da política do primeiro mandato de Sócrates ainda fumegam e cada um faz pela vida no meio dos destroços. Conseguir dar à educação uma política coerente tornou-se uma tarefa impossível para os próximos anos.

Como é que está a justiça? Pelas ruas, melhor, pelas avenidas da amargura. É o problema singular mais difícil de resolver que hoje temos, ainda mais difícil do que o da competitividade da economia. Na economia ainda há áreas de excelência rodeadas de crise por todo o lado. Na justiça entrou-se num pântano de descrédito muito semelhante ao que atravessa a política.

Como é que estão os campos? Ao abandono, ou produzindo apenas culturas subsidiadas. Há excepções, mas confirmam a regra. No entanto, o potencial está lá intacto, o que no meio desta desgraça ainda permite esperança porque a agricultura é estratégica numa crise.

Como é que estão as fábricas? Cada vez menos e cada vez mais paradas, cada vez mais a palavra designa apenas edifícios e cada vez menos um local onde se trabalha, cada vez mais as fábricas pertencem em Portugal ao domínio da arqueologia industrial.

Como é que está o emprego? Tragicamente mal. E vai continuar ainda mais tragicamente mal, mesmo que deixe de crescer como até agora, porque à medida que o tempo passa acaba os subsídios. Então aí é que a crise ameaça passar para as ruas.

Como é que está a economia? Paralisada e estagnada. Endividada e perdendo competitividade. Mas como uma parte da economia ainda escapa à mão do governo, ainda há oportunidades e há quem as esteja a usar. No meio deste descalabro, não é o pior.

Como é que está a natalidade, um indicador de futuro? Olhe-se para a Pordata, a base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e olhe-se para os indicadores dinâmicos da população e da natalidade e parece que um bloco de gelo pousou nos números. Em baixo voam os números da despesa…

Como é que está a corrupção? A fazer um upgrade.

Como é que está o governo? Bloqueado e sem saber o que fazer

Como é que estão os portugueses? Sem esperança, cansados, e zangados com os políticos.

Como é que está o Primeiro-ministro? Impante de optimismo e feliz consigo próprio.

Como é que está o PS? Perplexo, percebendo que vem aí tempestade da grossa, mas agarrado ao poder. Alguma coisa tem que mudar.

Como é que e está a oposição? Perplexa, percebendo que vem aí tempestade da grossa, mas sem saber o que fazer. Alguma coisa tem que mudar.

Como é que estão os bons? Mal.

Como é que estão os maus? Bem.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1750 -Beloved, Let Us Once More Praise The Rain

Beloved, let us once more praise the rain.
Let us discover some new alphabet,
For this, the often praised; and be ourselves,
The rain, the chickweed, and the burdock leaf,
The green-white privet flower, the spotted stone,
And all that welcomes the rain; the sparrow too,—
Who watches with a hard eye from seclusion,
Beneath the elm-tree bough, till rain is done.
There is an oriole who, upside down,
Hangs at his nest, and flicks an orange wing,—
Under a tree as dead and still as lead;
There is a single leaf, in all this heaven
Of leaves, which rain has loosened from its twig:
The stem breaks, and it falls, but it is caught
Upon a sister leaf, and thus she hangs;
There is an acorn cup, beside a mushroom
Which catches three drops from the stooping cloud.
The timid bee goes back to the hive; the fly
Under the broad leaf of the hollyhock
Perpends stupid with cold; the raindark snail
Surveys the wet world from a watery stone...
And still the syllables of water whisper:
The wheel of cloud whirs slowly: while we wait
In the dark room; and in your heart I find
One silver raindrop,—on a hawthorn leaf,—
Orion in a cobweb, and the World.

( Conrad Aiken)

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4.3.10


EARLY MORNING BLOGS

1749 - Premiers signes du Printemps


1.
Tandis qu'à leurs oeuvres perverses
Les hommes courent haletants,
Mars, qui rit malgré les averses
Prépare en secret le printemps.

2.
Pour les petites pâquerettes
Sournoisement, lorsque tout dort,
Il repasse les collerettes
Et cisèle des boutons d'or.

3.
Dans le verger et dans la vigne,
Il s'en va, furtif perruquier,
Avec une houppe de cygne
Poudrer à frimas l'amandier.

4.
Tout en composant des solfèges,
Qu'aux merles il siffle à mi-voix,
Il sème aux près les perce-neige
Et les violettes aux bois.

(Théophile Gautier)

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3.3.10


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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(NOT SO) EARLY MORNING BLOGS

1748 - The Ant and the Cricket

A silly young cricket, accustomed to sing
Through the warm, sunny months of gay summer and spring,
Began to complain, when he found that at home
His cupboard was empty and winter was come.
Not a crumb to be found
On the snow-covered ground;
Not a flower could he see,
Not a leaf on a tree.

"Oh, what will become," says the cricket, "of me?"
At last by starvation and famine made bold,
All dripping with wet and all trembling with cold,
Away he set off to a miserly ant
To see if, to keep him alive, he would grant
Him shelter from rain.
A mouthful of grain
He wished only to borrow,
He'd repay it to-morrow;
If not helped, he must die of starvation and sorrow.

Says the ant to the cricket: "I'm your servant and friend,
But we ants never borrow, we ants never lend.
Pray tell me, dear sir, did you lay nothing by
When the weather was warm?" Said the cricket, "Not I.
My heart was so light
That I sang day and night,
For all nature looked gay."
"You sang, sir, you say?
Go then," said the ant, "and sing winter away."

Thus ending, he hastily lifted the wicket
And out of the door turned the poor little cricket.
Though this is a fable, the moral is good--
If you live without work, you must live without
food.

(Anónimo)

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2.3.10

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EARLY MORNING BLOGS

1747 - Looking For a Sunset Bird in Winter

The west was getting out of gold,
The breath of air had died of cold,
When shoeing home across the white,
I thought I saw a bird alight.

In summer when I passed the place
I had to stop and lift my face;
A bird with an angelic gift
Was singing in it sweet and swift.

No bird was singing in it now.
A single leaf was on a bough,
And that was all there was to see
In going twice around the tree.

From my advantage on a hill
I judged that such a crystal chill
Was only adding frost to snow
As gilt to gold that wouldn't show.

A brush had left a crooked stroke
Of what was either cloud or smoke
From north to south across the blue;
A piercing little star was through.

(Robert Frost)

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1.3.10


PONTO / CONTRAPONTO

- 17

Aqui.

- 18

Aqui.

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O BURACO NEGRO

Existe uma espécie de buraco negro no centro da vida política portuguesa. Ninguém deseja mais do que eu falar de outra coisa, espairecer, ir para outra, focar o que se pensa e diz num universo mais sólido, mesmo que difícil e duro e complexo, nos seus caminhos. Muitas vezes digo a mim mesmo que é preciso falar dos "verdadeiros problemas do país", o desemprego, a crise, a situação da economia portuguesa, a dívida, mas esta frase mais que certeira na sua vontade de sanidade, ainda que sanidade infeliz, acaba por parecer um escapismo irresponsável e, no fundo, um desvio que erra na identificação dos "verdadeiros problemas" do país. Porque, dê-se-lhe a volta que se lhe der, o país tem no seu centro um buraco negro que reside antes de tudo na própria política, e que acaba por engolir tudo à volta, economia, sociedade, cultura, moral, sanidade nacional, recursos escassos, e que, enquanto lá estiver, vai sempre impedir-nos de sequer poder enunciar os outros problemas mais estruturais como deve ser, isso se quisermos defrontá-los em democracia. Ou seja, estamos presos na conjuntura política actual e sem ultrapassar essa conjuntura não conseguimos actuar sobre a estrutura. O buraco negro é esse e o seu centro maciço é a personagem do primeiro-ministro. Enquanto ele lá estiver, não há sossego nas mentes, moralidade pública, estabilidade e paz civil. Não são os seus adversários que criam esta perturbação, é ele próprio e ele está lá porque os portugueses o escolheram nas urnas e numa democracia só sairá de lá nas urnas.

Eu estou próximo do pessimismo sobre a situação económica e a evolução rápida do país para um abismo evidente, que muitos economistas, a começar pelo mais emblemático no seu pessimismo, Medina Carreira, têm mostrado. Acho há muito tempo que ele tem razão, como têm João Salgueiro, Silva Lopes, João Duque, Daniel Bessa, João César das Neves e muitos outros (e acrescento no plano político, Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite), mas o anúncio da catástrofe não me chega. Ele tem sido muito pedagógico e o verdadeiro pecado de Mário Crespo, que o tornou um problema "a resolver", foi criar um programa de televisão que deu uma voz a esse tom de pessimismo e emergência nacional.

Mas temo que esse tom também tenha um elemento enganador: é que em democracia não há "ditadura das finanças", em democracia não há governos de sábios, nem de técnicos, em democracia e num país soberano, não é saudável um comando exterior imposto, em democracia só há soluções que passam pelo convencimento dos cidadãos da sua bondade e que esse reconhecimento se traduza em votos. Pode ser preciso um abanão forte, para que nos defrontemos com a nossa verdadeira imagem no espelho e não com as ilusões que alimentamos, mas tudo continuará na mesma, ou seja, pior, se o caminho for qualquer entorse na democracia em nome da eficácia económica e financeira. É por isso que uma parte do discurso da catástrofe, com que, insisto, eu me identifico do ponto de vista analítico e mesmo nas soluções drásticas que a podem travar, me parece ser parte do problema, quando é enunciado sem ter em conta o problema democrático, de como resolvê-la em democracia, ou seja, nas urnas. O problema democrático é que só há solução nos votos, e nenhuma solução nos votos escapa a ser uma solução com o PS, o PSD e o CDS, e mesmo com o PCP, ou seja, com os políticos que temos, com os defeitos dos partidos que temos, escolhendo neles os melhores, ou, se quiserem, os menos maus e os que têm consciência dos problemas do país e atacando os outros. Não pode haver demissão cívica, nem nefelibatismo face aos partidos, porque isso ajuda sempre os piores e deixa os melhores sem apoios. Há políticos conscientes da crise e da sua dimensão e são fragilizados na sua capacidade de poderem fazer melhor, exactamente pela mesma rasoira que trata todos por igual, não apoia e ajuda quem genuinamente deseja mudar as coisas e convencer.

O discurso antipolíticos e anti-partidos, por muito justificado que pareça ser, e muitas vezes o é, não ajuda um átomo a resolver os mesmos problemas que esses pessimistas identificam, e, bem pelo contrário, ajuda a agravá-los. Em vez de fazerem escolhas realistas, mesmo que fossem de mal menor, acabam por sugerir que os problemas de condução económica e financeira não são do domínio do político em democracia, mas sim apenas do saber e da vontade. Não chega.

É por isso que a consciência da catástrofe falha, se for apenas isso e se não identificar os bloqueios políticos que a geraram ou que a agravam. De novo é no PS e no PSD, principalmente nestes dois partidos, que existe a única possibilidade de a crise anunciada, e de novo insisto, com lucidez, poder ser resolvida em democracia, ou quando muito mitigada. E é aqui que se tem que ir. O primeiro problema é a actual direcção do PS, o círculo do poder de Sócrates, uma permanente fonte de perturbação da consciência dos portugueses. Como é possível que não sejamos colocados perante o dilema de fazer alguma coisa perante um primeiro-ministro que nos engana, que actua no limite da legalidade, mas com sistemático abuso do poder, que só dá péssimos exemplos e que está a ajudar a perverter um já débil sistema judicial, criando uma situação pastosa em que parece que vale tudo perante uma impunidade generalizada? Sim, o grande bloqueio actual para resolver qualquer problema está num grupo sitiado, mas perigoso e ameaçador, que gera por si só uma enorme dificuldade a qualquer entendimento. Ele não acabará bem, nem a bem.

É por isso que o segundo problema é o do PS, que ganhou as eleições e tem legitimidade para governar, mas que está, pelos seus silêncios e aquiescências, a inquinar o país e a bloquear o clima de apaziguamento que tem que preceder qualquer defrontar da crise. Não é possível pedir aos portugueses nenhum sacrifício, enquanto o primeiro-ministro for o homem que os enganou e engana sobre o país em que vivem e os seus problemas. Em tempos de depressão, a autoridade moral é a única que ajuda a manter a paz social e uma consciência de um esforço colectivo. Com José Sócrates, não existe essa autoridade moral, sobra só a autoridade e cada vez mais o seu abuso. O PS sabe hoje muito bem disto, mas o apego ao poder está a torná-lo um obstáculo ao esforço nacional para defrontar a crise iminente.

E o terceiro problema é o PSD, onde o dilema é ficar-se mais parecido com o PS, ou sentir-se como vital a emergência que Portugal atravessa e a necessidade de uma alternativa efectiva e a curto prazo. A preparação do PSD para um cenário eleitoral para que vá sem receios é um dos factores que mais permitem desbloquear a crise que vivemos e tapar o buraco negro não sei bem com que massa, mas sei que nela tem que haver votos, os votos dos portugueses que estão fartos de saberem indignidades todos os dias e de se sentirem impotentes face a elas e que querem mudar. E que já são muitos.

(Versão do Público de 26 de Fevereiro de 2010.)

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1746 - Blizzard

Snow:
years of anger following
hours that float idly down —
the blizzard
drifts its weight
deeper and deeper for three days
or sixty years, eh? Then
the sun! a clutter of
yellow and blue flakes —
Hairy looking trees stand out
in long alleys
over a wild solitude.
The man turns and there —
his solitary track stretched out
upon the world.

(William Carlos Williams)

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© José Pacheco Pereira
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