ABRUPTO

17.11.10


COISAS DA SÁBADO: OBAMA OBSCURECIDO PELO SEU PRÓPRIO BRILHO



Obama foi eleito com tanto esplendor que a chama iria obscurecer alguém. A curto prazo foi McCain e os republicanos, a médio (o médio cada vez mais curto que o encolher do tempo mediático gera) foi o próprio Obama a vítima. É que a sua presidência tem sido pouco mais do que entre o medíocre e o suficiente, enredada em promessas irrealistas e em esperanças exageradas. Como diz um provérbio com base na física popular, tudo o que sobe tem que descer. A gravidade é uma coisa muito séria.

Mas quem iria imaginar que a Nemésis da vitória pessoal de Obama iria ser não uma pessoa mas um movimento colectivo? Com a história é sempre a aprender… Há muitos lunáticos no Tea Party mas o movimento é do mais puramente americano que há. Mário Soares chama-lhe “movimento de extrema-direita”, com o mesmo radicalismo com que no Tea Party há quem ache que Obama é comunista. Mas o Tea Party derrotou esmagadoramente um Obama que há um ano parecia invencível e pode estar aí para durar. Pode, mas não é certo.

Movimento populista, grosseiro nas críticas, como é típico na chamada vox populi, fundamentalista religioso nalguns sectores, mas liberal-libertário noutros, o Tea Party exprime a desconfiança face ao estado, ao big government que é genética na democracia americana. Só o afastamento dos democratas e de Obama dessa fonte original, querendo fazer política “à europeia”, explica muito do radicalismo das suas críticas.

O individualismo também lá está, mas é o individualismo que Stuart Mill descreveu nestes termos: “apenas a parte da conduta de cada um que se reflecte na sociedade diz respeito a outros. Na parte que apenas diz respeito a si próprio, na sua independência é absoluta. Sobre si próprio, sobre o seu corpo e a sua mente, o individuo é soberano”. Claro que para muita gente que vai para a rua e votou nos candidatos apoiados pelo Tea Party, este individualismo é genuinamente contraditório, por um lado são contra a liberdade nas condutas sexuais, por outro não querem o governo a decidir a que médicos podem ir, quando podem.

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© José Pacheco Pereira
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