ABRUPTO

25.10.10


FRASES PARA OS TEMPOS DE HOJE


…post duos annos vidit Pharao somnium putabat se stare super fluvium de quo ascendebant septem boves pulchrae et crassae nimis et pascebantur in locis palustribus aliae quoque septem emergebant de flumine foedae confectaeque macie et pascebantur in ipsa amnis ripa in locis virentibus devoraveruntque eas quarum mira species et habitudo corporum erat expergefactus…


1. A crise económica, social e política não vai durar um ou dois anos, vai durar pelo menos uma década. Na melhor das hipóteses.

2. O político que disser que as coisas vão melhorar na volta da esquina, está a mentir.

3. O político que diz aos portugueses que vão conhecer tempos maus e que é preciso persistir nas medidas de contenção e austeridade durante um período considerável de tempo, fala verdade. As suas propostas são as únicas que vale a pena ouvir e só ele poderá falar da luz ao fundo do túnel.

4. Um bom político não falará de nenhuma luz ao fundo do túnel tão cedo.

5. O mercado da esperança vai conhecer muitos feirantes, mas nenhum vende a não ser contrafacções que se rasgam à primeira.

6. Deixar um destes feirantes da esperança chegar ao poder pode significar deitar por água abaixo o que foi adquirido nos anos de austeridade anteriores. Será uma tentação fatal a meio do percurso.

7. Primeiro serão os salários, depois serão as reformas. O custo de vida será sempre caro.

8. Nenhum imposto que subiu descerá tão cedo, se descer..

9. Nenhum salário que foi cortado, voltará ser inteiro.

10, Os mais pobres serão as vítimas principais, como sempre.

11. A classe média é que conhecerá a maior queda de qualidade de vida.

12. Algumas pessoas enriquecerão com a crise.

13. A corrupção continuará florescente, mas também conhecerá cortes. Nem para corromper muito caro há dinheiro, mas a corrupção mais barata florescerá ainda mais.

14. A crise matará milhares de pequenas empresas.


15. O TGV, o novo aeroporto de Lisboa, novas estradas está tudo póstumo. Os governantes podem falar deles, desperdiçar dinheiro para simular que os vão fazer, mas não tem dinheiro para os fazer.

16. As escolas tornar-se-ão mais caóticas. O clima de crise social é propício à indisciplina grave.

17. As escolas ficarão mais ou menos em autogestão pelos professores.

18. A saúde ficará bastante mais cara para todos.

19. A TAP pode não sobreviver à crise, a RTP sobreviverá.

20. A diplomacia portuguesa será reduzida ao mínimo, na maioria do mundo não haverá embaixadas portuguesas.

21. A cultura continuar a ter gente habilidosa capaz de vender uma banheira gigante e chamar-lhe arte pública.

22. AS forças armadas portuguesas não verão cumprida a Lei de Programação Militar

23. As autarquias continuarão algum tempo em contra-ciclo, mas chegará o tempo em que também aí haverá austeridade.

24. No final da década os portugueses podem vão estar pobres e a caminho de ficarem ainda mais obres. Se nessa altura a nossa situação da dívida e do défice estiver controlada, ganhamos a década. Se não, perdemos ainda mais.

25. O estado dos portugueses será de irritação política, na melhor das hipóteses. Na pior poderá haver violência.

26. A irritação política é o terreno ideal para a demagogia e para o populismo.

27. A violência política chamará ainda mais violência.

28. Liberais e estatistas todos cortarão no estado. Só não cortarão nas mesmas coisas.


29. Os nossos direitos face ao estado tornar-se-ão quase inexistentes. Face ao fisco quase nenhum direito sobreviverá.

30. A nossa privacidade desaparecerá. O estado vai conhecer por onde andamos, o que compramos, o nosso dinheiro, as nossas prendas, tudo o que sirva para taxar. O Google conhecerá o resto.

31. O fisco será a face do estado mais próxima dos cidadãos e a mais odiada.

32. Existirão suicídios por causa do fisco.

33. O desespero será um sentimento muito comum. Os ricos terão depressões, os pobres desespero.

34. Esta década conhecerá na prática o fim dos direitos adquiridos

35. O pouco dinheiro que chegará aos pobres terá como via as instituições de solidariedade social, em particular da Igreja Católica.

36. O pouco dinheiro que o estado dará aos pobres perder-se-á em grande parte pelo caminho e não será dado aos pobres, mas aos “pobres oficiais”.

37. Vai haver quem queira estar no governo por múltiplas razões, nenhuma das quais é governar.

38. A única política que se pode considerar patriótica não é a que se afasta da austeridade para dar “folga” aos portugueses, mas a que escolhe as melhores medidas de austeridade e evita as más medidas de austeridade

39. As maiorias das medidas de austeridade que qualquer governo vai aplicar nos próximos anos, são escolhidas e decididas no exterior, pela Alemanha, pela EU, pelas agências de rating, pelo FMI, e pelos credores.

40. Poucos políticos actuais sobreviverão à década, mas isso não significa renovação.

41. A maioria dos políticos das novas gerações será profissional da política. Os seus verdadeiros cursos são nos partidos e fora terão apenas cursos de plástico para colocar o dr. e o eng, antes do nome.

42. Os partidos serão substituídos pelos aparelhos partidários, fechados sobre si próprios, tornar-se-ão comunidades de poder e com poder.

43. Haverá cada vez mais familiares de políticos actuais nos lugares políticos.

44. A crise de lugares, empregos, salários, benesses tornará a competição dentro dos partidos cada vez mais dura, visto que os partidos serão uma das saídas rápidas para aceder a um lugar remunerado, para que menos qualificações se exigem.

45. Todas as grandes organizações partidárias de base que tiverem um muito elevado número de membros, sem correspondência com a força eleitoral do partido numa determinada zona, são cacicadas

46. As eleições partidárias internas serão cada vez mais competitivas, duras e agressivas. Os lugares são poucos e a fome muita.

47. Os grandes interesses organizados terão na prática um direito de veto sobre as principais medidas politicas.


48. Comparado com o que aí vem nenhuma destas previsões é especialmente pessimista.

(Versão do Público de 16 de Outubro de 2010.)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]