ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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29.8.10
ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE Livros numa igreja de Copenhaga, (A.) Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)
(url) 28.8.10
COISAS DA SÁBADO: A “GRANDE VITÓRIA DIPLOMÁTICA” DA VINDA DE OBAMA A PORTUGAL Uma das manipulações mais provincianas que se pode fazer da imprensa, e que a imprensa muitas vezes não precisa sequer de iniciativa alheia para para se automanipular com espírito de serviço, é a de apresentar como mérito próprio ou aquilo que é inevitável, e aconteceria fossem quais fossem as circunstâncias, ou aquilo em que não tivemos qualquer papel particular, mas a distância dos decisores e ignorância dos processos ajudam a apresentar como uma “vitória”. É o caso desta vinda de Obama a Portugal para a Cimeira da OTAN. Se “vitória” portuguesa houve foi em conseguir que uma Cimeira, mais importante do que as habituais, fosse em Portugal, não que Obama cá estivesse. Na verdade, é o objectivo da Cimeira de uma organização de que Portugal é membro, que vai discutir um documento fundamental sobre a sua estratégia, preparado por uma equipa dirigida por Madelaine Allbright, que faz Obama vir. E Obama vem porque existe a percepção que o documento que vai ser apresentado não só pode ajudar decisivamente a organização a sair de um limbo estratégico, como também terá reunido um consenso que permitirá resultados a que o Presidente dos EUA quer estar associado e caucionar. Em vez de estarmos com estas “vitórias” provincianas, devíamos é perguntarmos como é que, a escassos meses da Cimeira, não existe nenhum debate nacional sobre esta matéria, a começar pela obrigação do governo de nos dizer alguma coisa sobre as suas opções a propósito de um documento que irá ser fundamental para a nossa defesa e para as nossas forças armadas. Era mais útil. (url) 1860 - The Consent Late in November, on a single night Not even near to freezing, the ginkgo trees That stand along the walk drop all their leaves In one consent, and neither to rain nor to wind But as though to time alone: the golden and green Leaves litter the lawn today, that yesterday Had spread aloft their fluttering fans of light. What signal from the stars? What senses took it in? What in those wooden motives so decided To strike their leaves, to down their leaves, Rebellion or surrender? and if this Can happen thus, what race shall be exempt? What use to learn the lessons taught by time. If a star at any time may tell us: Now. (Howard Nemerov) (url) 27.8.10
(url) (url) 1859 - The Second Coming Turning and turning in the widening gyre The falcon cannot hear the falconer; Things fall apart; the centre cannot hold; Mere anarchy is loosed upon the world, The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere The ceremony of innocence is drowned; The best lack all conviction, while the worst Are full of passionate intensity. Surely some revelation is at hand; Surely the Second Coming is at hand. The Second Coming! Hardly are those words out When a vast image out of Spiritus Mundi Troubles my sight: somewhere in sands of the desert A shape with lion body and the head of a man, A gaze blank and pitiless as the sun, Is moving its slow thighs, while all about it Reel shadows of the indignant desert birds. The darkness drops again; but now I know That twenty centuries of stony sleep Were vexed to nightmare by a rocking cradle, And what rough beast, its hour come round at last, Slouches towards Bethlehem to be born? (W. B. Yeats) (url) 26.8.10
1858 - Voltaire At Ferney Almost happy now, he looked at his estate. An exile making watches glanced up as he passed, And went on working; where a hospital was rising fast A joiner touched his cap; an agent came to tell Some of the trees he’d planted were progressing well. The white alps glittered. It was summer. He was very great. Far off in Paris, where his enemies Whsipered that he was wicked, in an upright chair A blind old woman longed for death and letters. He would write “Nothing is better than life.” But was it? Yes, the fight Against the false and the unfair Was always worth it. So was gardening. Civilise. Cajoling, scolding, screaming, cleverest of them all, He’d had the other children in a holy war Against the infamous grown-ups, and, like a child, been sly And humble, when there was occassion for The two-faced answer or the plain protective lie, But, patient like a peasant, waited for their fall. And never doubted, like D’Alembert, he would win: Only Pascal was a great enemy, the rest Were rats already poisoned; there was much, though, to be done, And only himself to count upon. Dear Diderot was dull but did his best; Rousseau, he’d always known, would blubber and give in. So, like a sentinel, he could not sleep. The night was full of wrong, Earthquakes and executions. Soon he would be dead, And still all over Europe stood the horrible nurses Itching to boil their children. Only his verses Perhaps could stop them: He must go on working: Overhead The uncomplaining stars composed their lucid song. (W. H. Auden) (url) 25.8.10
(url) O fogo em São Pedro do Sul (José Manuel de Figueiredo). Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)
(url) (url) 1857 - Poema manuscrito nas folhas brancas de um livro e lá esquecido Não teimes, não insistas, não repitas, mas vive como quem, teimando, insiste, e, porque insiste, como que repete. Esse das sombras o silêncio fluido escoando-se por ti quando não passas, parado que ouves, não mais é que o tempo de hoje em que vives só alheias vidas, de ti alheadas qual de ti vividas. Por outro tempo te criaste impuro, difuso e firme, no clamor de versos que os tempos de hoje reconstroem como delidas cartas um fogacho acendem. Outro que seja, é teu, pois o escutaste na dor de apenas ser, na dor de ouvir quão desatentos menos homens são os homens todos. Teu, sem que teu seja, que destes e dos outros se fará serena ciência de possuírem tudo o que juntares para ser roubado, quando, parado no silêncio fluido, se escoava nele o próprio estar na vida, atento como estavas, poeta como eras daquele ser não-sendo que eram todos em ti, dentro de ti, à tua volta. (Jorge de Sena) (url) 24.8.10
(url) ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE (url) 1856 - Pastoral Mote Vai o rio de monte a monte, Como passarei sem ponte? Voltas É o vau mui arriscado, Só nele é certo o perigo; O tempo como inimigo Tem-me o caminho tomado. Num monte está meu cuidado, E eu, posto aqui noutro monte, Como passarei sem ponte? Tudo quanto a vista alcança Coberto de males vejo: D' aquém fica meu desejo E d' além minha esperança. Esta, contínua, me cansa Porque está sempre defronte: Como passarei sem ponte? (Francisco Rodrigues Lobo)
(url) 15.8.10
(url) 1855 - Silence There are some qualities - some incorporate things, That have a double life, which thus is made A type of that twin entity which springs From matter and light, evinced in solid and shade. There is a two-fold Silence - sea and shore- Body and soul. One dwells in lonely places, Newly with grass o'ergrown; some solemn graces, Some human memories and tearful lore, Render him terrorless: his name's "No More." He is the corporate Silence: dread him not! No power hath he of evil in himself; But should some urgent fate (untimely lot!) Bring thee to meet his shadow (nameless elf, That haunteth the lone regions where hath trod No foot of man,) commend thyself to God! (Edgar Allan Poe)
(url) 14.8.10
ÍNDICE DO SITUACIONISMO (124) : FRETES A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida. É de facto difícil fazer melhor, no que diz respeito a um "jornalismo" de fretes e de encomenda. Todas as pequenas mensagens desejadas, passadas sem distanciação. Fotografias encenadas, também com as mensagens certinhas. Todas as "antecipações" desejadas, a melhor forma de ter boa imprensa com base em intenções, sem o ruído do real e dos factos. "Jornalismo" de ditado, eu dito-te o que vou fazer e o que pretendo e lá vem tudo direitinho, mesmo que depois não aconteça assim, já está conseguido o efeito. Sim, porque não é apenas "antecipação" de um discurso, é o meta-discurso pretendido já encaixotado e pronto para servir. O acto "antecipado" e a leitura que se deseja. Tudo by the book, de agência, mas não do jornalismo. E tão evidente, tão grosseiro até, que mete dó. O modo como alguns jornais, com destaque para o Expresso e o Diário de Notícias tratam Passos Coelho e o PSD no período pré-Pontal. Pode haver quem ache que isto é bom, mas isto é péssimo, quer para o jornalismo, quer para o PSD. Até os três porquinhos perceberam que as casas de papel duram pouco se o lobo mau soprar. (url) COISAS DA SÁBADO: O PAÍS QUE ARDE, ANO SIM, ANO NÃO Ano sim, ano não, o país arde. Nos anos não, o Ministro da Administração Interna vem dar-nos as boas estatísticas acompanhado pela massa de dirigentes da protecção civil, em ambiente controlado e asséptico, mostrando determinação e gabando-se de que nada ardeu porque o governo fez o que devia. Em ano sim é o caos, umas vezes o Ministro também aparece, mas nem sequer uma parecença de ordem operacional se consegue manter. Nada é mais poderoso do que as imagens dos fogos, do desespero das pessoas, dos bombeiros esgotados, dos comandantes a pedir meios que não vem, dos jornalistas que acham que fazer um relato de um incêndio é aumentar o histerismo colectivo. Não acho que o governo tenha toda a responsabilidade do mundo sobre os seus ombros porque há incêndios. Por muito que tudo estivesse a funcionar bem (e não está), as condições atmosféricas adversas e anos e anos de negligência nas matas, tornam um fogo incontrolável. Mas se não se pode apontar o governo como responsável de tudo o que arde, há pelo menos duas coisas em que a sua responsabilidade é total. Uma é a retórica sobre os fogos, outra é um aspecto muito perverso dessa retórica, as medidas legislativas para encher o olho e esquecer mal começa a chover. A primeira, impede uma aproximação realista ao problema e abre caminho à segunda, que essa sim é puro escapismo desresponsabilizante. Não havia leis e punições rigorosas para quem não limpasse as matas? Havia e há, só que como não são realistas não são aplicáveis. Menos leis e mais medidas sensatas teriam mais efeito, mas não dão tão boa televisão. O mesmo se pode dizer da prova dos nove de uma máquina gigantesca, criada ao modelo centralizador dos governos Sócrates, e que agora se verifica ser pouco eficaz a não ser para colocar atrás do Ministro uma série de responsáveis em salas de operações com toda a parafernália da modernidade. Chega o ano sim, e não se vê um incremento de eficácia. Menos soberba e menos propaganda daria mais resultados até porque perante os fogos os governos deviam ter respeitinho, medo e muita prudência. (url) ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE Barcos da Ria de Aveiro (entre os quais dois moliceiros) ao amanhecer.
(url) 1854 - Da Nossa Semelhança Da nossa semelhança com os deuses Por nosso bem tiremos Julgarmo-nos deidades exiladas E possuindo a Vida Por uma autoridade primitiva E coeva de Jove. Altivamente donos de nós-mesmos, Usemos a existência Como a vila que os deuses nos concedem Para, esquecer o estio. Não de outra forma mais apoquentada Nos vale o esforço usarmos A existência indecisa e afluente Fatal do rio escuro. Como acima dos deuses o Destino É calmo e inexorável, Acima de nós-mesmos construamos Um fado voluntário Que quando nos oprima nós sejamos Esse que nos oprime, E quando entremos pela noite dentro Por nosso pé entremos. (Ricardo Reis) (url) 13.8.10
(url) 1853 - Morning Why do we bother with the rest of the day, the swale of the afternoon, the sudden dip into evening, then night with his notorious perfumes, his many-pointed stars? This is the best— throwing off the light covers, feet on the cold floor, and buzzing around the house on espresso— maybe a splash of water on the face, a palmful of vitamins— but mostly buzzing around the house on espresso, dictionary and atlas open on the rug, the typewriter waiting for the key of the head, a cello on the radio, and, if necessary, the windows— trees fifty, a hundred years old out there, heavy clouds on the way and the lawn steaming like a horse in the early morning. (Billy Collins) (url) 12.8.10
(url) (url) 11.8.10
1852 - To A Friend Whose Work Has Come To Nothing Now all the truth is out, Be secret and take defeat From any brazen throat, For how can you compete, Being honour bred, with one Who, were it proved he lies, Were neither shamed in his own Nor in his neighbours' eyes? Bred to a harder thing Than Triumph, turn away And like a laughing string Whereon mad fingers play Amid a place of stone, Be secret and exult, Because of all things known That is most difficult. (William Butler Yeats)
(url) 10.8.10
(url) (url) 1851 - Glazunoviana The man with the red hat And the polar bear, is he here too? The window giving on shade, Is that here too? And all the little helps, My initials in the sky, The hay of an arctic summer night? The bear Drops dead in sight of the window. Lovely tribes have just moved to the north. In the flickering evening the martins grow denser. Rivers of wings surround us and vast tribulation. (John Ashbery) (url) 9.8.10
HOJE DE NOVO NO (url) Lisboa no Verão. (MJ) Mar de Domingo na Praia das Pedras Amarelas em Valadores, Vila Nova de Gaia (Helder Barros). (url)
© José Pacheco Pereira
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