ABRUPTO

14.8.10


COISAS DA SÁBADO: O PAÍS QUE ARDE, ANO SIM, ANO NÃO

http://external.cache.el-mundo.net/fotografia/2003/08/incendios/imagenes/PORTUGA.jpgAno sim, ano não, o país arde. Nos anos não, o Ministro da Administração Interna vem dar-nos as boas estatísticas acompanhado pela massa de dirigentes da protecção civil, em ambiente controlado e asséptico, mostrando determinação e gabando-se de que nada ardeu porque o governo fez o que devia. Em ano sim é o caos, umas vezes o Ministro também aparece, mas nem sequer uma parecença de ordem operacional se consegue manter. Nada é mais poderoso do que as imagens dos fogos, do desespero das pessoas, dos bombeiros esgotados, dos comandantes a pedir meios que não vem, dos jornalistas que acham que fazer um relato de um incêndio é aumentar o histerismo colectivo.

Não acho que o governo tenha toda a responsabilidade do mundo sobre os seus ombros porque há incêndios. Por muito que tudo estivesse a funcionar bem (e não está), as condições atmosféricas adversas e anos e anos de negligência nas matas, tornam um fogo incontrolável. Mas se não se pode apontar o governo como responsável de tudo o que arde, há pelo menos duas coisas em que a sua responsabilidade é total. Uma é a retórica sobre os fogos, outra é um aspecto muito perverso dessa retórica, as medidas legislativas para encher o olho e esquecer mal começa a chover. A primeira, impede uma aproximação realista ao problema e abre caminho à segunda, que essa sim é puro escapismo desresponsabilizante. Não havia leis e punições rigorosas para quem não limpasse as matas? Havia e há, só que como não são realistas não são aplicáveis. Menos leis e mais medidas sensatas teriam mais efeito, mas não dão tão boa televisão.

O mesmo se pode dizer da prova dos nove de uma máquina gigantesca, criada ao modelo centralizador dos governos Sócrates, e que agora se verifica ser pouco eficaz a não ser para colocar atrás do Ministro uma série de responsáveis em salas de operações com toda a parafernália da modernidade. Chega o ano sim, e não se vê um incremento de eficácia. Menos soberba e menos propaganda daria mais resultados até porque perante os fogos os governos deviam ter respeitinho, medo e muita prudência.

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© José Pacheco Pereira
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