ABRUPTO

24.3.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (79):
JORNALISMO FEITO DE VENTO E VENENO ANÓNIMO



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.


Edição "de bolso" do Código Deontológico para os jornalistas trazerem na carteira.

Cito do artigo de Eva Cabral no Diário de Notícias intitulado "Mota Amaral apontado para as eleições europeias":

A demora na divulgação do cabeça de lista laranja às europeias tem levado a que vários nomes surjam no espaço mediático, desde logo o do ex-líder Luís Marques Mendes, que tem a seu favor o facto de ser uma figura bem conhecida da opinião pública, não precisando por isso de uma pré-campanha longa. Fontes sociais democratas referiram no entanto ao DN ser difícil para a actual liderança "ver outro ex-líder a juntar-se a um espaço mediático onde a candidatura a Lisboa de Pedro Santana Lopes também vai mobilizar boa parte das atenções". (...) Entre as soluções tidas como possíveis nos últimos tempos surgiu o nome de Rui Machete, o presidente da FLAD, (...) apresentando no entanto o handicap de "pouco dizer às gerações mais novas".

Mais fontes anónimas emitindo meras opiniões políticas. Por que razão são anónimas? Têm medo que os matem numa esquina? É que esta promiscuidade jornalística com as "fontes" (até na repetição do vocabulário como se vê com a expressão "espaço mediático") molda a notícia sem nós sabermos nada da representatividade de quem fala e da sua motivação. Convinha ler o Código Deontológico com atenção.

Na verdade, muito do jornalismo político é feito por cinco amigos (cujas posições são conhecidas e que estão sempre dispostos a dizê-las anonimamente, não vá porem em causa o seu lugar de deputado ou as aspirações ao seu lugar de deputado...), um telemóvel e muito, muito, vento. Veja-se, por exemplo, a última frase para se perceber quão fino é o ar do vento, como é quase nada:

Outro dos nomes recorrentemente apontados é o de José Pedro Aguiar-Branco, actual vice-presidente de Manuela Ferreira Leite, que tal como o do presidente da Câmara Municipal do Porto , Rui Rio, outro dos pesos pesados do PSD, são sempre referenciados como podendo fazer parte de uma solução.
É verdade para José Pedro Aguiar-Branco, e é falso para Rui Rio. Que eu saiba apenas o mesmo co-autor do abaixo assinado sobre Marcelo, propôs num blogue o nome de Rui Rio. E a coisa ficou por ali. Um pessoa, um blogue, uma blague, passou à categoria de multidão, a ser "sempre referenciados". Se eu quiser até posso propor a Dama das Camélias ou o Morgado de Fafe que espero que não me tomem a sério e coloquem nos jornais. Ah! e já agora, anonimamente, eu também posso argumentar que a Dama tem o "handicap" de estar doente e o Morgado de ter vícios. Isto chama-se ruído, não tem qualquer valor informativo.

Repito o que já disse antes: se a maioria dos portugueses soubesse efectivamente como são feitas as "notícias", não comprava um jornal, não via um noticiário, a não ser como entretenimento, ou como obra de ficção.

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© José Pacheco Pereira
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