ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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22.3.09
ÍNDICE DO SITUACIONISMO (76): O EGO À PROCURA DO ECO (3) A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida. A narrativa dos jornalistas sobre Manuela Ferreira Leite não é sobre a sua acção política, mas sobre a sua performance comunicacional. Faça Manuela Ferreira Leite o que fizer, diga o que disser, o relato jornalístico é sempre uma espécie de meta-texto sobre se vestiu de roxo ou de branco, se tinha um cartaz atrás ou à frente, se tinha teleponto ou não, se disse soundbites ou não, se falou à hora do almoço ou do jantar, se tem ou não tem consultores de comunicação, em suma, se "tem" ou não "tem" "política de comunicação". Tenho a certeza, absoluta certeza, de que, se um dia houver uma subida nas sondagens, ou seja se mudar a "realidade", o que se irá dizer é que tal se deveu a uma "nova" "política de comunicação". A "realidade" só tem autorização para mudar se nunca invalidar as teses anteriores dos jornalistas. Percebe-se porquê: os jornalistas têm que ter sempre razão e como o seu reporting é essencialmente opinativo, ele alimenta-se de uma espécie de narcisismo pessoal ou colectivo, que não suporta que a "realidade" entre na narrativa, caso ela contrarie as previsões opinativas que fazem. Já não são os factos que estão em causa, são eles próprios enquanto intencionais fazedores de opinião. É o ego à procura do eco. Estamos de novo no círculo vicioso que gera um efeito de claustrofobia, porque não se consegue sair do meta-texto, nada existe fora do mundo pequeno dos meios, entre as redacções e os blogues dos jornalistas, em que cada um se mede face aos outros como adolescentes na escola. E como a “classe” é pequena, as reputações voam como o vento, os empregos estão difíceis, o pack journalism, o jornalismo de rebanho é uma forma de situacionismo. O receio de ir contra o “consenso” da classe é muito, o resultado é um enorme empobrecimento do jornalismo político. (Continua.) (url)
© José Pacheco Pereira
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