ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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3.9.08
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: UMA II GUERRA MUNDIAL COMO NUNCA SE TINHA OUVIDO FALAR (3)
O que Davies faz, e que muda muita coisa, é centrar a guerra onde a guerra se perdeu e ganhou, no confronto entre a Alemanha nazi e a URSS de Staline, com a Polónia pelo meio. Outros historiadores já o tinham feito tão evidente é o facto de que Hitler perdeu a guerra a Leste e não a Oeste (quando o primeiro soldado americano colocou os pés no extremo sul do continente, na Sícilia, já o exército alemão perdera toda a capacidade ofensiva face aos soviéticos, ou seja, já tinha, para todos os efeitos, perdido a guerra). Mas Davies vai mais longe e isso é que enfureceu os seus críticos: ele retrata a URSS com o mesmo tipo de olhar que habitualmente usamos para a Alemanha nazi, ou seja como um regime criminoso que em muitos aspectos superou a crueldade nazi em políticas de genocídio, crimes de guerra, execuções em massa de civis e prisioneiros de guerra, retaliações contra povos e etnias inteiras, limpezas étnicas, violações em massa, todo o tipo de violência imaginável. Olhando assim para a guerra ela parece mais um gigantesco conflito entre dois estados totalitários e criminosos, a Alemanha hitleriana e a URSS estalinista, e tudo o resto é pouco mais do que paisagem. O resto é aquilo que a esmagadora maioria dos filmes ingleses e americanos retrata: o Dia-D, Dunquerque, Anzio, Al Alamein, a ponte de Remagen, "band of brothers" e o Soldado Ryan. Ou a visão da guerra como uma luta entre os estados democráticos e o totalitarismo nazi. Cinquenta anos de guerra fria devia ensinar-nos que não foram os ingleses nem os americanos que ganharam a guerra em 1945 e que só a ganharam (admitindo que era a mesma guerra, o que é defensável) em 1989. Mas uma coisa é certa, houve um aliado inglês e francês que a perdeu, a Polónia, e perdeu-a face aos seus aliados e face aos seus inimigos. (Continua.) * Já que tem abordado a questão da nova visão histórica da segunda guerra mundial, recomendo-lhe a obra “War without Garlands”, de Robert Kershaw, livro publicado pela Ian Allan Publishing. A análise e o relato incidem sobre a operação Barbarossa (1941-1942 – invasão da URSS pela Alemanha nazi). Mas a visão da guerra é nos dada pelos olhos e pelas impressões dos soldados e dos oficiais que efectivamente a combateram no terreno – com base em cartas dos soldados alemães enviadas para a Fatherland, diários pessoais dos soldados, relatórios de combate e arquivos secretos das SS. Sendo um facto notório que a guerra no leste foi especialmente brutal, Kershaw também analisa de que forma o facto de estarmos na presença de dois oponentes com regimes totalitários, com militares motivados ideologicamente, terá contribuído para os excessos cometidos, quer sobre os militares inimigos, quer sobre as populações civis. Kershaw discorre sobre a pressão que cada um dos aparelhos ideológicos terá exercido sobre os executantes no terreno e, por causa disso, sobre a responsabilidade moral dos soldados. O que os motivava? (url)
© José Pacheco Pereira
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