ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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5.9.08
Em Agosto a vida não parou e o Algarve é só um espelho parcial da nação. Que o digam os operários da Yazaki Saltano, entretanto despedidos, as vítimas dos crimes violentos, os que concorrem desesperadamente a lugares sobre lugares, a ver se ficam professores, se ficam funcionários, se ficam polícias, se ficam empregados de escritório, se ficam caixas de supermercado, etc,. etc. A ver se não ficam desempregados. A vida também não parou para os negócios de gabinetes, para essa abafada, obscura e contínua conversação sobre recursos (nossos), dinheiro (nosso), projectos (deles), planos (deles), sobre os quais só descobrimos ou quando já tudo é um facto consumado, ou quando a Procuradoria abre um processo e há um escândalo. Isso também não parou em Agosto e não foi a férias, até porque não precisa de ir em Agosto, e certamente prefere outras paragem melhores que o Algarve. O país move-se pelo hábito, pela inércia, pela apagada e vil tristeza. E uma ínfima parte move-se pelas coisas boas, criativas, novas, mas que são a muito pequena excepção. Mas, sobre este movimento contínuo, os calendários da vida moderna, parte feitos pelo estado burocrático, como sejam as férias escolares, parte feitos pela sociedade impregnada de espectáculo, exigem rupturas, paragens, recomeços. O dia 31 de Julho já se sabe que é maldito para dizer coisas importantes (que o diga o Presidente que rompeu os costumes do calendário), o mês de Agosto é silly por excelência e nele só cabem silly things. Depois, é suposto haver uma rentrée, um acto de recomeço, um momento que tem que ter surpresa e novidade, porque é isso que vende jornais e abre noticiários de televisão. Não adianta argumentar que sobre os problemas do pais se pode sempre dizer o mesmo desde o século XIX, ou, se se quiser ser mais modesto temporalmente, desde o defunto governo Guterres (inclusive). Que se pode sempre dizer que as coisas vão de mal a pior, todos os dias andamos para trás e sabemos muito bem porquê e sabemos muito bem porque não há forças endógenas que empurrem para a frente. Mas não adianta. Temos pois que dizer sempre coisas novas, espectaculares para saciar o monstro comunicacional e os seus viciados, ou seja quase todos nós. Não suportamos o silêncio, mesmo quando é o silêncio dos actos, não suportamos que nos digam sempre as mesmas coisas mesmo que sejam as fundamentais, não suportamos que não haja “novidade”, efémera e ficcional seja. A logomaquia tem que continuar. Ai de quem a interrompa! (url)
© José Pacheco Pereira
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