ABRUPTO

10.5.08


COISAS DA SÁBADO: INSUPORTÁVEL VAZIO (2)



(Continua esta nota.)

Mas não é só pela ausência de qualquer matéria de interesse público, a começar pela política, que a irrelevância deixa a as suas marcas. Há também uma degradação da própria cobertura noticiosa, em relação a padrões de maior qualidade atingidos há alguns anos. Por exemplo, a velocidade de cobertura das notícias e a sua diversificação está cada vez mais dependente de horários de funcionalismo público e da escassez de jornalistas ou de métodos conservadores de manter a agenda nas redacções. A única coisa para que as televisões parecem mostrar plasticidade e velocidade são os acidentes e o futebol. Há um morto num acidente de viação num sítio qualquer do país e saem a toda a velocidade os carros de exteriores para os “directos”.

Na verdade, o país fecha com o telejornal da noite para tudo o que não sejam irrelevâncias e, a partir daí, pouco mais do que repetições são de esperar, mesmo em televisões e rádios noticiosas que é suposto funcionarem 24 horas por dia. Aqui está-se a andar e muito para trás. A ideia de que uma notícia deve ser dada o mais cedo possível, desaparece com a acumulação de material que fica à espera do dia seguinte, muitas vezes das 13 horas, para finalmente aparecer. Deixaram de ser as notícias a mandar, mas apenas os alinhamentos dos noticiários e as suas conveniências. Os que sabem que uma coisa aconteceu, entre as 8 e a meia-noite, período de tempo que já foi nobre para conduzir actividades para os que trabalham durante o dia, muito provavelmente tem que se habituar a que os horários preguiçosos das televisões, tornem inexistente tudo o que aconteça à noite e não seja uma gala, ou um jogo de futebol.

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© José Pacheco Pereira
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