ABRUPTO |
![]() semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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2.3.08
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14:05
(JPP)
Há quem diga, num resto da cultura antiga de partido-camisola, que falar como eu falo é que impede o caminho glorioso do PSD para o poder. Acho isto uma treta, se me permitem usar um plebeísmo. Uma liderança que se afirmasse junto do país, e isso é que conta, nunca seria sequer beliscada pelo comentário político, que aliás já tem a maturidade e independência suficiente para reconhecer, caso existisse, o mérito de uma solução mesmo contra as opções pessoais. O problema do PSD não sou eu, nem Marcelo, nem nenhuma das vozes críticas, é Menezes, a sua direcção e entourage, uma parte da qual permanece discreta fora dos lugares, e é um partido cujo rank and file não quer de todo admitir que as suas escolhas messiânicas, desde o "menino guerreiro" ao actual líder, não querem defrontar os verdadeiros problemas do partido e da sua relação com o país, a crise enorme de credibilidade a nível nacional, a falta de esclarecimento e responsabilidade em casos como o do casino, ou todos os que, sendo assacados ao PP, ocorreram em governos com primeiros-ministros PSD que são obrigados a explicar o seu papel. Ora o PSD prepara-se para chegar a 2009 com face da derrota de 2005 e, por muito que isso possa agradar a Santana Lopes, para pela enésima vez se medir com o seu próprio espelho, é péssimo para o PSD e o país. Marques Mendes podia ter tido a tentação de escrever isto contra Menezes, mas, mérito seu, nunca o escreveu. Nem a Distrital do Algarve teve alguma vez qualquer problema em ver Menezes a criticar Marques Mendes nas "nas tribunas de opinião que generosa e não inocentemente lhes são atribuídas na comunicação social portuguesa", certamente com a conivência do PS, como o Correio da Manhã, na SICN, em livros e em múltiplos reuniões, colóquios e entrevistas, "numa gigantesca campanha de assassinato político em curso contra o líder do PSD":Mas há outras responsabilidades. Há no PSD quem seja candidato à liderança, ou pense que o possa ser, que tem a pior das ideias sobre a situação do partido e a sua liderança, e que mesmo assim ande enredado em palavras mansas e institucionais e prudentes e... hipócritas. Quando ouço dizer que "Menezes deve cumprir o seu mandato", ou que "é preciso dar tempo a esta liderança para mostrar o que vale", por parte de pessoas que não têm nenhuma dúvida sobre o que ele "vale", e que no fundo só estão à espera que ele perca as eleições, assunto sobre o qual não têm também a mais pequena dúvida, eu tendo a pensar que elas são parte do problema e não da solução. Menezes é também filho desses cálculos."Tal campanha conta com a vergonhosa cumplicidade e conivência activa de um conjunto de protagonistas, cujo nome ainda figura na listagem de militantes do PSD, e que nas tribunas de opinião que generosa e não inocentemente lhes são atribuídas na comunicação social portuguesa, não se coíbem de exibir com despudor as suas críticas à liderança do PSD, ultrapassando todas as regras mais elementares do respeito pela dignidade política e pessoal" Já o argumento de Marcelo, que lhe marcou o prazo de validade para o Verão, de que os militantes mais activos do PSD, os da camisola, ainda não estão convencidos de que Menezes não chega lá, porque ele anda a dizer nos almoços e jantares de fim-de-semana que subiu nas sondagens, deve ser tomado mais em consideração. Penso, aliás, que é verdade, que ainda não se esgotou a esperança do milagre do "já", que foi um elemento fundamental da sua vitória sobre Marques Mendes, e que, como Menezes faz o grosso da sua actividade para dentro do partido numa nunca acabada campanha eleitoral junto das "bases", isto cria um ecossistema blindado ao que pensa o país. Mesmo assim, a esperança já mirrou muito, mesmo entre muitos dos votantes de Menezes. Porém, quatro meses e meio depois, um tempo que tem que ser medido psicologicamente em função das expectativas geradas, Menezes já não pode contar com os silêncios de complacência iniciais. Basta ler os jornais e ver os noticiários da rádio e da televisão para se perceber que as línguas já se soltaram, porque até agora só eu e Paula Teixeira da Cruz não fizemos este lip service ao silêncio de circunstância, que é uma atitude que me parece muito falsa, porque leva as pessoas a estarem a dizer coisas em que não acreditam para não agitarem as águas, a não ser "quando for o tempo". O problema é que já de há muito que é "o tempo", para falar com franqueza, em bom rigor desde a coligação PSD/PP que já era "tempo". Mas, mais vale tarde do que nunca. Os exemplos são diários. Nuno Morais Sarmento desmantelou a superficialidade da proposta de Menezes sobre a televisão (aliás, tão ad hoc como as outras que apresentou na entrevista) e Aguiar Branco fez o mesmo no dia seguinte. Não concordo com nada do que disse Morais Sarmento sobre a televisão pública, mas ele tem, como Aguiar Branco, razão num aspecto crucial: as propostas de Menezes são tão pontuais, casuísticas, desirmanadas e disparatadas que nem sequer podem ser tomadas a sério. Elas não representam qualquer reflexão de conjunto que justifique sequer discuti-las e são apenas afirmações tácticas para marcar uns pontinhos no sítio e com o público pretendido. Na SIC eram para Balsemão ouvir, na Fenprof para os professores, e noutros sítios para os autarcas, ou para as "bases", nunca para a governação. António Capucho foi ainda mais longe numa entrevista ao Diário Económico e disse que "Menezes é desastroso" e que afasta "as figuras (...) mais importantes no partido em termos de credibilidade [que] estão a ser alvo de gestos de desconsideração gratuita", e mesmo Ângelo Correia só à terceira insistência de Mário Crespo na SICN é que respondeu que "sim", que "se reconhecia na liderança de Menezes". Depois sugeriu, de forma elíptica, que a principal razão porque o fazia era porque ele rompia com "vinte anos de partido", ou seja, com Barroso e Cavaco, com quem tem contas a ajustar. Com tanto entusiasmo, talvez seja por isso que Ângelo Correia está prudentemente a procurar-lhe um sucessor. As línguas soltaram-se, mas os cálculos não. Quais são os cálculos? Um, e fundamental, é a falta de confiança na possibilidade de o PSD ganhar as eleições em 2009, não com Menezes, que isso estão todos tão certos como dois e dois serem quatro, mas com "eles". Sabem que Menezes não ganha, mas também pensam que não são capazes de ganhar e esperam por melhores tempos, que o ciclo político mude e seja tiro e queda, partido hoje, governo amanhã. Esta indiferença face ao facto de o PS poder ir governar mais quatro anos, isso sim, me parece ser de "mau PSD". Associado à ideia de que não é preciso nenhuma urgência para mudar a situação está o cálculo de pensar-se que, como Menezes espera sentado que Sócrates caia, outros esperam sentados que Menezes caia. Esperar sentado é pelos vistos um hábito nacional, mas, se num ou noutro caso resulta, como com Barroso face a Guterres, não me parece que esta geração Menezes-Sócrates, que são políticos profissionais desde pequeninos, se deixe tirar a não ser "à bomba", como diz Menezes. Dito isto tudo, a situação está tão feia que só há uma pequena oportunidade que pode dar grandes resultados: apareça, o mais cedo possível, um candidato credível, que os há vários, credível acima de tudo junto da sociedade, honesto, lúcido, incomodado com o estado do país, dedicado à causa pública, com um programa alternativo ao do PS, que também não é difícil de fazer, que fale língua da gente e não "politiquês", que se deixe de calculismos e arrisque tudo, e vamos ver se então muita coisa não muda mesmo. Mas para isso não é preciso que Menezes queira ou não, é preciso que o PSD o queira e esta é que é a questão mais complicada, porque o país só acredita numa mudança quando ela for a doer, começando por defrontar os erros do PSD e corrigindo-os. Veremos. Talvez uns acreditem numa forma de milagre, eu noutro. No fundo, somos todos irremediavelmente crentes. Pelo menos nalgumas ocasiões o Senhor podia ajudar o PSD, que bem precisa. Ámen. (versão do Público de 1 de Março de 2008.) Etiquetas: PSD (url)
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