ABRUPTO

3.1.08


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A LIDERANÇA AMERICANA NA GUERRA DO IRAQUE (1)

Bob Woodward, State of Denial. Bush at War Part III, lido na versão portuguesa Estado de Negação. Bush, da Eleição às Derrotas no Iraque, Lisboa, Relógio d' Água, 2007.

(Tradução que soa muitas vezes bizarra, estranha, mesmo para além dos americanismos coloquiais difíceis de traduzir, com frases que não são nem português, nem inglês. Apesar disso lê-se razoavelmente bem.)


O método

Este livro é um típico produto do "alto" jornalismo americano e implica uma relação de confiança do leitor com o seu autor. Na verdade, nas notas a cada capítulo refere-se que este foi escrito com base em duas, três, cinco, dez fontes anónimas credíveis, para além do material em on, entrevistas, declarações públicas, artigos e livros. Muitas vezes essas fontes são anónimas só no papel, porque em reuniões em que estão presentes cinco ou seis pessoas, incluindo os mais altos cargos da governação americana, a começar pelo Presidente, ou mesmo em conversas a dois, só é possível que a fonte seja quem todos percebemos quem foi. Por exemplo, Andy Card, durante muitos anos o chefe de gabinete de Bush, ou o Príncipe saudita Bandar Bin Sultan, durante muito tempo embaixador em Washington e mentor de Bush filho.

O resultado é perigoso no seu fascínio e
é necessária uma considerável reserva ao lê-lo, mas isso não limita outros méritos do livro. (Uma crítica dura ao método Woodward feita por outro jornalista encontra-se aqui. ). O que não o torna é o relato histórico definitivo dos eventos que conta, por muito sedutora que seja a sua reconstrução. Woodward conta reuniões ao mais alto nível na administração americana, relatando os diálogos em estilo directo, do género Bush perguntou isto, Condolezza Rice respondeu aquilo, como se tivéssemos à nossa frente a própria reunião e os seus protagonistas. Isto dá um excelente texto, corrido, sobre o qual não se pensa, mas também a partir do qual vamos formando a nossa opinião sobre o carácter das personagens. Ora, Woodward obteve o relato de fontes inteiramente envolvidas no mesmo processo de decisões, que à luz das consequências posteriores, desejam preservar-se. A "história" é assim movida pelas fontes de Woodward, que, nalguns casos, são as únicas testemunhas do que se passou dispostas a contá-lo a um jornalista.

(Continua.)

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