O Sud Express, um dos primeiros “Grands Express Européens” da “Wagons-Lits”, nasceu da vontade do fundador da “Compagnie Internationale des Wgons-Lits et des Grands Express Européens”” em criar um “Nord-Sud-Express” que nunca viu a luz do dia mas que, na visão de George Nagelmakers, teria ligado 7 capitais europeias, circulando de Lisboa a São Petersburgo. Foi criado a pensar n os turistas em demanda das praias da Cote Basque então na moda (Biarritz, etc) e os homens de negócio que, querendo dirigir-se para a América do Sul, poupavam muito tempo ao escolher esta via e embarcar em Lisboa em vez de se dirigirem para o Havre.
Primeiro comboio em que se usou a sineta para anunciar os serviços de refeição ( expediente usado para resolver a afonia súbita do responsável da carruagem-restaurante), tendo conhecido, em França algum renome a sua gastronomia ferroviária, o “Sud-Express” foi também o ultimo comboio que viu circular as célebres carruagens “Pullman” (no seu percurso francês) e, com a excepção da Turquia, o último comboio que viu circular os “fourgons” Wagons-Lits para transporte de correio (desta feita em território ibérico)
Herdeiro decadente deste peso pesado da história do caminho de ferro (cuja relevância na introdução das ideias liberais no nosso país e no êxodo dos emigrantes nos anos 60 conhecerá melhor do que eu) , o “Sud-Express” não deixa de ser, hoje ainda, um comboio importante, na medida em que é um “comboio de bandeira” (no sentido em que se pode falar da TP como companhia de bandeira”) Oferece aos emigrantes, logo à chegada à fronteira franco-espanhola, um pedaço de território português, onde eles se sentem “em casa” (aqui mandam eles) adoptando logo comportamentos de compensação da obrigação de “se portarem bem” que foi a deles na viagem de TGV em França (e que faz parte da sua aceitação enquanto “não gauleses” pelos outros passageiros), poupando-lhes a continuação dessa agonia durante a longa travessia de Espanha (também “território inimigo”). E é ver os tesouros de exercício de relações públicas que o pessoal do catering do comboio ( uma desconhecida “Minc Barp”, bem conhecida porém dos siderodromofilos) exerce, por forma a dominar os comportamentos demasiado exuberantes que possam surgir, sem, porém, deixar de dar espaço ao “defoulement” da chegada ao “solo pátrio”. Sei, porque vi.
(Mauricio Levy)
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Tendo utilizado o Sud Expresso ha' pouco tempo, para me deslocar a Salamanca em trabalho (Braga-Salamanca-Braga), devo dizer que foi realmente uma experiência completamente diferente. As carruagens talvez não sejam dos anos 60 (Sec. XX) mas pareceram-me muito semelhantes 'aquelas em que me lembro de viajar, ainda miúdo, na viagem Braga-Lisboa em finais dos anos 70, inícios de 80. Agora, como então, marcação de lugar e' coisa que existe apenas no bilhete.
Mas, realmente anacrónico, foi descobrir que a bilheteira da CP em Braga não vende bilhetes para esse comboio. Fui conselhado a viajar para Coimbra e comprara la' o bilhete (ja' em viagem - segundo o funcionario, nunca ninguem ficou apeado!) ou, em alternativa, deslocar-me a uma das agências de viagem (em Braga!) que vendem esses bilhetes. Ora ai' esta' algo que desafia a compreensao!
(Jose' Campos)
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Em 1997, por ocasião de um inter-rail, fiz a viagem no Sud-Express e não mais o esquecerei! Viajar (de férias claro, sem a pressa de chegar) de comboio até Paris é uma experiência inesquecível, pelo que se vê, se cheira e se sente, e bem diferente de levantar da Portela num 737 e aterrar em Paris 2h30 depois, tendo apenas visto um filme do Mr. Bean e comido uma refeição de plástico. No Sud-Express lembro-me de me ter sido oferecido broa de milho com queijo, ago impensável num vôo de avião! De qualquer modo, concordo com o António M. Graça: quem quiser apenas ir a Paris, chegar rapidamente e pagar pouco, vai de avião e o resto são romantismos.
De qualquer forma, o estado actual dos transportes vai mudar. Teremos talvez já atingido o pico mundial de extracção de petróleo, a população mundial continua a crescer, cada vez mais pessoas querem ter acesso à "sociedade de consumo", pelo que o preço dos combustíveis vai aumentar irreversivelmente. Utilizar meios de transporte pouco eficientes como o automóvel ou o avião vai tornar-se um bem escasso e caro, pelo que talvez dentro de algumas décadas voltemos todos a andar mais de comboio. As energias renováveis e as medidas de eficiência energética são obviamente boas apostas, mas nunca serão capazes de substituir o conforto, progresso e toda a facilidade que os combustíveis fósseis permitiram nos últimos 100 anos. Tempos conturbados e difíceis se avizinham, mas pelo menos voltaremos ao romantismo do Sud-Express!