ABRUPTO

23:20 (JPP)

O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VIAJAR NO SUD EXPRESSO

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Em 1963, quando tinha 22 anos, tive a primeira oportununidade de fazer uma viagem de comboio pela Europa. Fui do Porto a Malmoe, na Suécia e levou-me cerca de 4 dias a chegar lá, mesmo partindo ao meio a viagem, isto é, numa primeira tirada fiz Porto/Paris e numa segunda, três dias mais tarde, Paris/Copenhagen e Malmoe. Custo da viagem com o percurso Porto/Bordeaux/Porto em 1ª classe, e o restante em 2ª classe, ida e volta, Esc.3.261$70, ou seja €16,27.

Agora, 44 anos depois, lembrei-me que talvez fosse giro tentar fazer pelo menos a primeira etape da viagem, Porto/Paris de comboio, para poder avaliar o que em quase 45 anos terá mudado. Pois bem, como tinha de ir á estação de Campanhã resolvi pedir informações aí, sobre esta viagem. Primeiro choque: como tenho mais de 65 anos, tenho direito nos comboios da CP a um desconto de terceira idade, que se cifra em 50% do valor da passagem. Só que, por razões que não me conseguiram explicar, este desconto só se aplica, no percurso Porto/Paris, no valor da viagem do Porto para Coimbra (!). A segunda surpresa veio quando perguntei pelo preço aproximado do bilhete, em segunda classe, Porto/Paris. Resposta: cerca de € 160 ( só ida). Bom, como numa companhia de aviação “low cost”, desde que o bilhete seja comprado com uma relativa antecedência, poderá ser adquirido por cerca de € 20 eu pergunto quem serão os “masoquistas” que ainda viajam no “Sud-Express” entre Paris e Portugal. (...)

(António M. Graça)

Em 1963 o meio bife do Comibebe custava 7,5 escudos. Uma bica 12 tostões ou mesmo 25 tostões, já não me lembro bem. Mesmo a 2,5 escudos isso dá menos de 0,015 euros. A bica aumentou mais de 30 vezes, o comboio 10 ponhamos 15 vezes para compensar o facto que Porto-Bordeus-Porto serão 2500kms versus 2000 Lisboa-Paris . E ainda se queixa o leitor?
Quanto ao facto de ser muito mais caro do que o avião low cost é um facto. Mas a maior parte dos wque usam o Sud-Expresso são os que vão, por exemplo, da zona de Bordeus para a zona centro do nosso pais e vice-versa, nem todo o mundo é de Lisboa ou Paris.

E depois… são mundos, mercados, pessoas diferentes. Quem como eu viaja (quando posso, que são infelizmente poucas as vezes onde temos o luxo do tempo) no “Sud” fá-lo para ter uma experiencia completamente diferente da do low cost aéreo e que muitos pagam a preço de ouro (bem diferente do preço de que o seu leitor se queixa) nos charters liofilizados do “Oriente Expresso” que enche a boca de todos os que falam de viagens em comboio, ignorando que esse mítico “Orient Express” se tornou na realidade um comboio do submundo emigrante (e agora sem sequer chegar a Paris, correspondência com o novo TGV-Est oblige) e por outro lado, por um daqueles fenómenos de que a História é mestre em protagonizar, um comboio reservado a turistas endinheirados com obrigação de smoking ao jantar na sua versão de “charter”, fazendo lembrar os “voyageurs” da belle époque que motivaram a frase desabusada de um soldado de um comboio militar que com o “Orient Express” se cruzou e que deixou escapar a agora célebre frase “E é por estes senhores que nos vamos bater!”. Comboio “charter” esse que, nova ironia do destino, inclui na sua composição carruagens-cama que entraram, nesses anos 60 do século XX, na composição do “Sud” português ou do comboio correio Lisboa-Porto onde seriam objecto de desprezo dos que agora “adorariam” fazer a tal viagem no “Oriente Expresso” !

E depois (bis)…. É toda uma outra coisa….
(Maurício Levy)

NOTA : ver Sou o último viajante – recordações do “Sud-Expresso”