08:59
(JPP)
LENDO
VENDO
OUVINDO
ÁTOMOS E BITS
de 7 de Maio de 2007Um dos apresentadores num noticiário qualquer televisivo disse de passagem, certamente pensando nas dezenas de minutos que em cada noticiário se passa especulando sobre o possível rapto de uma menina inglesa no Algarve, que é o assunto a que todos os jornais ingleses dão a primeira página. Não é verdade. Devia ter dito a que todos os tablóides ingleses dão a primeira página. É essa a comparação certa com os nossos noticiários televisivos (com triste relevo para a RTP, a do "serviço público"), a dos jornais tablóides.
*
O caso da menina britânica raptada ocupava sábado passado a primeira página de todos os jornais no Reino Unido. Mesmo o conservador Daily Telegraph tinha uma fotografia da menina que ocupava metade da página.
A BBC on-line tem a notícia na sua primeira página desde que se deu o rapto. A BBC 1 tem colocado a notícia em segundo lugar na ordem das notícias do jornal da noite.
O caso está a mobilizar o Reino Unido por se tratar de um desparecimento de uma menina num local supostamente seguro para crianças. E provavelmente porque muitos pais terão feito o mesmo que os McCann - irem jantar fora a um restaurante próximo do apartamento onde deixaram os filhos a dormir.
A nossa polícia não surge com a melhor das imagens, pois notícias que aqui circulam indiciam que terá começado a actuar tarde. Jornais referem também que Portugal não tem departamentos especializados em crimes contra crianças, o que consideram inexplicável num país onde abundam redes de pedofilia. Apelidam de caóticas as conferências de imprensa dadas pela Polícia. É preciso não esquecer que a polícia britânica é especialista em relações públicas e em comunicação.
Acima de tudo, Deus queira que a nossa Polícia Judiciária consiga efectivamente descobrir a menina, sã e salva.
(Ana Pinheiro)
*
A máquina de desvalorizar já está em pleno funcionamento para a Madeira.
NOTA - A carta do leitor reproduzida em baixo levou-me ao mesmo artigo de Domingos de Andrade, mas agora sobre as eleições da Madeira. Começa assim:
Jardim não ganhou. Ganhou o populismo fácil. Jardim quis plebiscitar a lei das finanças regionais, quis mostrar ao continente que o povo, o povo dele, o povo que vive das migalhas que ele displicentemente deixa cair, as migalhas do bolo que pagamos, está contra o controlo das verbas por parte do Governo central. Jardim não ganhou. Perdeu o isolado PS- -Madeira, que não soube apresentar - ou não tinha - uma alternativa credível. Se é que valia a pena.
*
Em artigo assinado pelo chefe de redacção do Jornal de Notícias (Domingos de Andrade) escreve-se a propósito dos resultados das eleições francesas "Ganhou o discurso fácil de Sarkozy, que melhor soube interpretar e ludibriar o desejo de mudança dos franceses". Na continuação acrescenta "É preciso, disse no discurso de vitória, "reabilitar" o trabalho, a "autoridade" e o "mérito". São as palavras de ordem que sucederão aos últimos 200 anos de Liberdade, Fraternidade e Igualdade" - .
Não obstante não ser partidário de Sarkozy não deixo de ficar perplexo com este texto. É que de duas uma: ou o chefe de redacção do JN desconhece a realidade francesa e não acompanhou a campanha eleitoral, logo não deveria escrever sobre o assunto ou temos que admitir simplesmente que se trata duma escrita eivada de má fé em que as preferências partidárias e ideológicas primam sobre a objectividade do jornalista.
Ainda a propósito do discurso fácil - conviria recordar quem prometeu o aumento generalizado das prestações sociais, quem reeditou o usual refrão "os ricos que paguem a crise" a propósito das propostas de limitação dos impostos a 50% dos rendimentos, e num registo quase melodramático a propósito da violação de duas agentes de polícia num dos bairros dos suburbios de Paris sugeriu que no futuro as agentes passassem a ser acompanhadas pelos seus colegas nos seus trajectos quotidianos (o que mereceu de Sarkozy o comentário "os funcionários passam a ter como função proteger ... os funcionários". Talvez Domingos Andrade devesse reflectir sobre as palavras de um dos tenores do PSF - Dominique Strauss Kahn - que em comentário após os resultados disse "não podemos continuar a persistir numa visão ultrapassada do mundo - há que encetar uma renovação rumo à social democracia ...". Aparentemente Domingos Andrade apenas reteve a palavra de ordem da ala esquerda do PS, do PC (cuja candidata na primeira volta não atingiu os 2%) e da extrema esquerda "Tudo menos Sarkozy" que em si mesma é já um insulto aos eleitores.
A questão fundamental nem sequer são as ideais pessoais de Domingos de Andrade. O que se passa é que perante uma visão tão marcadamente enviesada da realidade não deixo de me perguntar se a sua objectividade jornalística, e a do jornal de que é chefe de redacção, conseguirão sobreviver.
(Carlos Oliveira, Luxemburgo)
Etiquetas: jornalismo