ABRUPTO

10.4.07


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OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 10 de Abril de 2007 (2)


Quando um jornalista discute o sucesso do governo ou do Primeiro-ministro apenas como resultado de "estratégias de comunicação social", passa a si próprio um interessante atestado de instrumento passivo dessas "estratégias", quase de marioneta. Quando se diz que o último mês foi "terrível" por "incompetência" comunicacional devido aos casos da OTA e das qualificações académicas do primeiro-ministro, e se comenta com ar cognoscenti que "não percebo o que é que estão a fazer os assessores", esquece-se um pequeníssimo pormenor: é que a OTA e as confusões curriculares de José Sócrates revelaram-se questões com substância, questões que tiveram pés para andar queiram ou não os estrategos do gabinete, queiram ou não os jornalistas.

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Esperei com curiosidade o debate da SICN sobre o "silêncio" do Primeiro-ministro. Pura ilusão. O tema já era de todo bizarro: que sentido tem discutir como tema principal o "silêncio" e não o caso em si? A obsessão dos jornalistas pelas "estratégias de comunicação social" em vez de irem à substância do assunto é puro umbiguismo profissional.

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Não é que acrescente muita coisa ao que já se sabe, mas parece incontroverso que o Primeiro-ministro usou indevidamente não só o título de engenheiro, como a informação falsa de que tinha uma licenciatura em engenharia muito antes de efectivamente a ter, a julgar pela versão que dá do seu currículo. Por mero acaso, quando verificava umas datas biográficas, consultei a edição de 1994 de Classe Política Portuguesa de Cândido de Azevedo, feita em parte com base nas informações fornecidas pelos próprios e é assim que José Sócrates é apresentado:


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Folgo por o Gato Fedorento o ter apanhado: a questão principal, agora e sempre, quase nunca é aquela que os outros propõem. A sua é. Por isso, o seu post confirma a estratégia de desqualificação que figura generosamente no seu discurso: desqualificação da argúcia dos outros, da razão dos outros, das escolhas dos outros. Os outros pensam? Sim. Pensam bem? Não. Não é apenas retórica, é mais um tique. E por isso o Gato o arranhou. Recentrando a questão.

Então não acha que o silêncio do PM possa ser, não o tema principal, mas um ponto de partida, entre outros, para a discussão? - ou preferia um título para o debate da SICN do género "O PM mente", "O silêncio do inocente"? Deixo ao seu critério, e certamente ao tempo que virá, a bondade do ponto de interrogação.

O silêncio é aqui um sintoma, não certamente a substância. Mas o silêncio do PM (e a análise desse silêncio, à luz do que se sabe) são reveladores e algo que também vale a pena discutir. Uma espécie de warmig up para o resto. Os silêncios do PM (ou a ausência deles) são importantes - por isso você escreve abundantemente sobre eles. Aliás, num post anterior sobre o "caso do diploma" (estava tentado a escrever "incidente diplomático", só para ensaiar uma pobre piada que pouco deva à demagogia), você desdobra-se em análises quer de factos quer de estratégias, enreda a subserviência da comunicação social nas diligências malévolas dos assessores. Fala inclusivamente de silêncios e isolamentos. Posto isto, há alguma maneira diferente de qualificar a sua obsessão pelas "estratégias de comunicação social" de ambos senão como um caso invertido de umbiguismo profissional?

Hoje, na SICN (mas já não estou certo de ter visto o mesmo programa), tratou-se de alguma matéria de facto, contaram-se histórias interessantes, lançaram-se suposições, umas acertadas, outras nem tanto. Ficaram muitas dúvidas e realmente o debate ganharia com a presença do PM. Ou de um assessor. Ou do Abrupto. Pode ainda imaginar-se o que jamais seria dito num debate daqueles, aquilo de que se fala apenas entre gente do mesmo rebanho, quando se apagam as luzes e o estúdio se descontrai nuns Jamesons-cortesia da produção. E divagar sobre os interesses específicos de cada um dos presentes. Já agora: concorda com o Francisco Louçã?

Espero então pela Quadratura do Círculo para ver se você vai ao fundo da questão e adianta qualquer coisa definitiva - e não apenas mais uma prova circunstancial do crime curricular do PM, como aquela que colocou hoje no seu blog.

(João M.)

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Ao ouvir hoje na televisão (Sic Noticias, Jornal da 9), pela enésima vez, um jornalista deleitar-se com mais um achado relevante da biografia do primeiro ministro José Sócrates, ocorreu-me que em Portugal o jornalismo não sofre de coarctação de liberdades, mas sim de um problema mais básico, que deveria relacionar-se com a formação profissional, mas cada vez é mais independente e generalizado, falo da carência grave e simples de EDUCAÇÃO e RESPEITO pelas hierarquias e pelos orgãos de soberania, dum país que se pretende soberano e respeitável. Porque uma coisa é o conteúdo, e outra é a forma como se transmite o mesmo. Muitas vezes, a forma incorrecta despromove o interesse e a razão do assunto mais relevante. Um país onde os cidadãos não demonstram o mínimo respeito pelos seus governantes ou superiores hierárquicos ou que não seja, pelos orgãos de soberania instituídos, merece ter maus governantes, não merece a liberdade que lhe é concedida (sempre ouvi dizer que as nossas liberdades terminam no limite de ofensa das de outrem). A falta de educação e a presunção jornalística de que a actividade profissional de informar dispensa as noções básicas de educação e respeito, leva-me a pensar que alguns desses cidadãos até a própria mãe criticarão em público e com galhofa, contentes no final com o desempenho da sua missão sagrada e única.

(Helena Sá)

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