ABRUPTO

25.11.06


COISAS DA SÁBADO: AS TRADIÇÕES AINDA SÃO O QUE ERAM

Former Russian spy Alexander Litvinenko in his hospital bedExiste na nossa história ocidental uma velha tradição de envenenar os opositores políticos. Os Bórgias passaram à história, entre outras coisas, por causa dos anéis que se abriam e despejavam veneno no copo dos anti-Bórgias. Os bizantinos, nossos antepassados cristãos gregos do oriente, tinham também essa tradição, que complementavam com o uso da cegueira para eliminar os competidores ao trono imperial ou os irmãos ambiciosos. Os guerrilheiros dos Balcãs utilizaram abundantemente essa prática de cegar os inimigos. Os russos, herdeiros dos soviéticos, herdeiros do império czarista, moldado na teocracia de Bizâncio, que ainda ostentam a águia bifronte como bandeira, também se dedicaram aos venenos. O NKVD, o seu sucessor KGB e o os serviços “democráticos” actuais, o FSB, mostram um know how venenoso bastante eficaz. O KGB búlgaro, discípulo do soviético, matou assim um opositor em Londres, com uma ponta de guarda-chuva. E o FSB já foi apanhado várias vezes com a mão na massa venenosa: o líder laranja ucraniano que ficou com a cara num bolo, os chechenos e os russos mortos no teatro de Moscovo por um gás “desconhecido” e agora um ex-FSB Litvinenko que comeu um sushi muito especial.

Litvinenko sabia umas coisas, nunca se percebe até que ponto verdadeiras ou adaptadas pelos serviços ocidentais e pela necessidade de sobreviver no caro mundo do capitalismo, mas bastante incómodas para o seu ex-colega Putin. Se a Rússia fosse uma democracia, uma questão como a chechena seria tão importante para a política interna como o Iraque para os americanos. Mas não é, porque a Rússia não é uma democracia, apesar da benevolência da UE. E Litvinenko, que estava nos serviços secretos quando da ascensão de Putin, sabe de sobra como é que ele chegou ao poder. Envenena-se pois, no seguimento de uma boa tradição autocrática.

NOTA: Depois de escrito este texto Litvinenko morreu, Putin explicou que isto de assassinatos políticos é o que de mais comum há na Europa, e parece que o veneno usado é suficientemente raro e sofisticado para não ser acessível aos comuns mortais...

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© José Pacheco Pereira
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