ABRUPTO

24.7.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DEZOITO QUILOS DE CREME



Segundo o PortugalDiário de ontem, e em relação a um dos grandes pânicos regularmente cultivados nesta época estival – o cancro da pele e o hábito obviamente suicidário que as sociedades (ocidentais, claro) têm em se expor ao sol – o presidente da Associação Portuguesa do Cancro Cutâneo terá afirmado, sobre a necessidade de protecção solar, que a quantidade ideal de creme a aplicar é, nada mais, nada menos, do que um grama por centímetro quadrado. «É essa a quantidade recomendada», sublinha o dermatologista
Só um pequeno comentário, na sequência de um hábito, também saudável, que é o de fazer contas aos números que com tanto gosto como displicência os senhores jornalistas gostam de nos alarmar:
A superfície média do corpo humano anda por volta dos 1,80 metros quadrados (1,81 para uma pessoa de 70 quilos e 1,70 metros). São portanto 18.000 (DEZOITO MIL) centímetros quadrados. A um grama cada, são DEZOITO QUILOS DE CREME (a aplicar de duas em duas horas se também seguirmos as regras)!

Mesmo descontando as partes não expostas (poucas, como sabemos), convenhamos que é uma bela besuntadela e um excelente negócio para as farmácias e fabricantes. Pode mesmo criar novos postos de trabalho para "carregadores balneários", uma vez que uma família de 4 indivíduos precisará de transportar, para cada duas horas de praia, qualquer coisa como 60 a 80 quilos de cremes. Não imagino com que aspecto ficará uma pessoa depois de aplicar o creme recomendado, mas calculo que não lhe ficaria mal colocar por cima meia dúzia de azeitonas e um raminho de salsa.

Fernando Gomes da Costa (médico)

... E SELECÇÃO NATURAL...


Foi notícia em quase todos os órgãos de informação nacionais que, no passado fim-de-semana, na praia do Magoito, uma pedra de 40 kg caiu, esmagando a perna de um senhor que estava no sítio errado na hora errada.

O caso não seria mais do que um lamentável acidente (não totalmente inesperado para quem, como eu, conhece o sítio), se não se desse o caso de, pouco depois dessa ocorrência, uma equipa de reportagem de TV ter ido ao mesmo local, onde entrevistou pessoas que, segundo declararam com o ar mais natural do mundo, sabiam perfeitamente o perigo que corriam (pois a zona perigosa estava bem assinalada) mas não tencionavam sair dali.

A minha primeira reacção resumiu-se a lamentar a possibilidade de, através dos meus impostos, ter de vir a pagar o transporte e o tratamento de pessoas que agem assim. No entanto, se analisar o assunto em termos de longo prazo, a conclusão já poderá ser optimista:

Sucede que a chamada «selecção natural» (como Darwin tão bem explicou) funciona sempre no sentido da «melhoria das espécies»: as mais fracas (de corpo ou de mente) acabam, a longo prazo, por desaparecer - ou porque são comidas por predadores, ou porque são vítimas de desastres aos quais a sua diminuta inteligência não permite que se furtem.

(C. Medina Ribeiro)

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