ABRUPTO

2.7.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
FUTEBOL, FUTEBÓIS, FUTEBOLÂNDIA




Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do desenvolvimento científico!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo dos Hábitos de Leitura e nas práticas culturais!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade de vida das cidades e do ordenamento do território!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do combate às desigualdades sociais e à pobreza!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade da educação e da nossa saúde!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade dos nossos dirigentes políticos e da capacidade das nossas elites!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da defesa do nosso património!

Fico-me por aqui pois apesar de ser um crítico da "Futebolândia" excessiva que existe no nosso país sou da opinião que o futebol é das poucas áreas em que nos podemos orgulhar como lideres de mercado e um sector onde somos realmente bons em ambiente de concorrência aberta num mercado global e liberal!
Esta campanha de Portugal no Mundial de 2006 (onde antigamente existia desorganização, lobbies diversos e comportamentos arruaceiros e temos agora competência, organização e resultados)leva-me a consolidar uma ideia: o que falta a este país para ser tão desenvolvido como os demais países da UE tem muito a ver com a liderança e visão estratégica que (talvez desde o Marquês de Pombal) tem faltado nas diversas elites nacionais (culturais, económicas, sindicais, políticas, sociais, universitárias, etc). Não é por acaso que os portugueses na estrangeiro produzem e são elogiados no seu desempenho profissional pois existe toda uma lógica de organização, saber e liderança completamente diferentes do que existe neste país.
Talvez fosse a hora (em jeito de brincadeira) de tal como o fizemos no Futebol chamarmos para nos dirigir em sectores realmente vitais para nos afirmarmos como país no Século XXI os diferentes Campeões do Mundo de cada área. Um país onde o mérito, a recompensa do esforço e a ética da conduta pessoal e do trabalho são subalternizados em relação à cunha, ao carreirismo político-partidário, ao amiguismo, aos interesses e lobbies instalados e à doce mediocridade nacionais, é um país adiado e muito pouco Europeu e Moderno!

De um bibliotecário intelectual (adepto moderado do Futebol e desporto em geral) de 35 anos, amante da nossa história e deste país com 853 anos de existência que já merecia ser feliz e proporcionar aos seus habitantes uma melhor qualidade de vida....

(Jorge Lopes)

*

Hoje, ao entrar para um “tram”, que me conduziria ao convívio com a alegria Portuguesa em festa numa Bruxelas com uns impossíveis 30 graus à sombra, assisti a uma breve troca de palavras entre um velho, ressentido e, muito, muito emigrante e um puto, louro, cabelo e olhos em contraste com o feio encarnado e verde da sua camisola “Cristiano Ronaldo”.

O velho, saindo do “tram”, com uma voz que lhe denunciava todo o ressentimento e frustração de uma vida, gritava irado para o puto: “porque é tens essa camisola vestida!?, porque é que não falas português!?”. O puto, que o olhava com um ar, não de desafio, mas de pena, respondia: “porque estou na Bélgica...”. Depois, já com o “tram” em andamento ouvi-o explicar em francês a todos os que o rodeavam, claramente a maioria não entenderia a nossa difícil língua (apesar de alguns também serem portadores de camisolas “Cristiano Ronaldo”) o conteúdo da sua altercação com o velho. De facto o miúdo tinha qualquer coisa de Cristiano Ronaldo, era uma estrela, todos à sua volta o admiravam, felizes pelo seu líder informalmente eleito ali mesmo na luta com o velho. E essa felicidade exprimia-se em francês.

A esta hora os putos loiros e de camisolas “Cristiano Ronaldo” andarão por aí por essas ruas belgas. Celebrarão em francês?... E o velho, celebrará de todo?

(Carlos Campos)

*

Na série "Os Homens do Presidente" imagino alguém a sugerir "Sr. Presidente, não devíamos afastar um pouco mais o anúncio da saída do Secretário de Estado, do jogo da equipa nacional, porque senão vai soar horrivelmente a spin?"

(Jorge Gomes)

*

Já desisti de lhe explicar que não existe nenhum conflito entre "intelectualidade" e "futebol"... nunca ouviu pessoas dizerem que uma pessoa "religiosa" é intelectualmente inferior? E depois cita-se o Einstein, Hawkings, Dostoievsky e Gogol mas não interessa...
O JPP é assim com o futebol. Que preconceito danado... Mas não interessa!

A ideia que lhe queria transmitir a si é que devia aproveitar o Abrupto para falar de xadrez, não como oposição ao futebol mas valendo por si mesmo, porque o xadrez vale. Jogou com o Spassky, fale-nos disso ou de como começou a jogar. Eu jogo xadrez e sei por experiência que muita gente gostava de jogar e de aprender a jogar. Mostre como havia tipos com pinta, como o Humphrey Bogart, que eram grandes jogadores de xadrez! Tem um blogue com tantas visitas e tanta visibilidade, se essa paixão pelo xadrez é sincera, então não o use como "oposto" ao futebol. A propósito, nas escolas, o que devia haver era música, escolas de música gratuitas.
(Lourenço)

*

Bandeiras e outras manifestações de orgulho nacional que me causam algum desconforto. Onde estão estas pessoas no resto do ano? Onde está este "amor a Portugal" nos outros dias ? Este é o país que perdeu a última oportunidade de dar o salto e recuperar anos de atraso preferindo gastar em "formação profissional" os fundos e ajudas da comunidade. O país onde o que é estrangeiro é sempre melhor... O país que só é bom a exportar jovens investigadores e estudantes de Erasmus.
(Pedro Dias)

*

Vi hoje no seu blog que já "encerrou a edição" dos comentários relativos ao dito artigo. Mas não poderia deixar de fazer esta referência. A propósito, deixo quatro comentários.

1. Concordo consigo relativamente à excessiva importância do futebol na nossa sociedade. Não costumo assistir a esses espectáculos, e tenho consciência do vício que se tornou. Quando olho à minha volta e vejo que os jovens da minha idade, exceptuando eu e outra pessoa que conheço, não lêem senão jornais desportivos, não vêm blocos informativos senão o Jornal de Desporto, e que, em relação às raparigas, o mesmo se passa (no caso, imprensa cor-de-rosa), sinto que algo de preocupante se passa. Não que não seja natural, porque é. Numa evolução social democrática, bem o sei, tende a haver uma divisão cada vez mais acentuada entre uma elite cultural extrema e uma classe popular totalmente ignorante em relação aos assuntos político-intelectuais que se torna claramente maioritária. Veja-se o caso dos EUA, exemplo que penso que seguiremos em termos sociais, um erro a meu ver. Os Estados Unidos devem ser, para mim, um exemplo político e económico a seguir(o que nós não estamos a fazer), mas nunca social.

2. O que disse antes não invalida que considere também necessária uma dose de cultura pop para nos evadirmos. Eu próprio assisto a programas, música e cinema pop, talvez influenciado pela degeneração social, mas penso que isso é bom sobretudo para podermos relaxar do ritmo frenético em que vivemos.

3. Discordo consigo em relação ao futebol internacional. Penso que, se há uma forma de esta gente ser patriota, isso é bom. Mesmo que seja através do futebol. Por isso vibro com a nossa selecção. É muito bonito ver essa "banalização" dos símbolos nacionais. O que é pena é que não tenhamos sempre, com ou sem Mundial e Euro, uma bandeira à nossa janela a mostrar o nosso amor por Portugal. Gostava de ver as pessoas a trabalhar em regime de voluntariado pelo País ou a ler um livro com o mesmo empenho com saem à rua para festejar a vitória conquistada por outrem. O que não invalida que isso seja positivo, pois é pelo nosso País.

4. Em suma, o que critico não é o futebol em si, é a excessiva importância que lhe damos. Tenho o meu clube, mas isso não significa que assista loucamente aos seus jogos, exceptuando as finais dos campeonatos. É também um abuso os salários que as pessoas desse meio auferem, tendo em conta a sua fraca importância para o desenvolvimento da sociedade - um cientista ou um investigador contribuem muito mais para a evolução mundial do que um presidente de um clube ou um jogador. Concordo consigo que o xadrez é bem mais útil, e por isso sou um grande fã desse desporto mental ao alcance de todos.

(Pedro Prola)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]