ABRUPTO

3.7.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Julho de 2006


América - Caruso a cantar em inglês e francês, com a sombra do sotaque italiano a brilhar como uma luzinha, uma canção patriótica para as trincheiras da Flandres:

Over there, over there,
Send the word, send the word over there -
That the Yanks are coming,
The Yanks are coming,
The drums rum-tumming
Ev'rywhere.
So prepare, say a pray'r,
Send the word, send the word to beware.
We'll be over, we're coming over,
And we won't come back till it's over
Over there.

*

E já agora que estamos numa de acrisolado amor pela pátria, ouça-se também o It's a Long Way to Tipperary. com John McCormack a cantar nos idos de 1914.

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Mais pão: o país mais optimista do mundo.

*

Ouvido algures: "isto do hino e da bandeira está tudo transformado numa macaquice."

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Pouco pão e muito circo. Notícias da Futebolândia: secção de "destaque" do Público (em linha) tem 12 artigos sobre futebol, na secção de "opinião" do Correio da Manhã (em linha) há 7 artigos todos sobre futebol. As capas já restauram um certo equilíbrio, dando notícias, que é aquilo para que é suposto os jornais existirem.



Entretanto não acontece nada no país: deu-se uma importante remodelação governamental, em que foi embora o único ministro com autonomia política, parece que as férias dos portugueses começam a revelar a crise (meio caminho andado para a Revolução), os agricultores vão poder construir casas de primeira habitação em áreas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (vão ver o número de agricultores a aumentar...) na Bolívia continua o plano inclinado para a desgraça da América Latina, na Palestina as coisas estão como se sabe, etc. Não acontece verdadeiramente nada que nos distraia do que é importante.

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No Kontratempos , "Imprensa na Prensa".

*

Por falar em ministros quadrados e redondos, Filipe Charters de Azevedo conta esta história:
No dia da demissão de Campos e Cunha eu estava no parlamento a cobrir a discussão das Grandes Opções do Plano. O ex-ministro foi meu professor e nessa qualidade mostrava um enorme sentido de humor e boa disposição. Ao contrário do papel que desempenhava como ministro onde era cinzento.

Porém, nesse dia do parlamento Campos e Cunha estava imbatível. Dizia piadas e arrumava a oposição sempre em duas ou três palavras sensatas.

Do bate boca habitual lembro-me de um dialogo entre Campos e Cunha e o deputado Honório Novo do PCP. O comunista argumentava que “estas eram as Grandes Opções de um Plano que não existia”. O titular da pasta das Finanças replicou que era verdade, mas este era um documento que não fazia sentido, “era um resquício da passagem do PC pelo Governo”. Perante as criticas dos deputados mais à esquerda, que argumentavam que essa era uma crítica sem sentido, com mais de trinta anos, o ministro explicou com um incrível ar de raposão, que “ninguém se esquecia do tempo em que o PC foi Governo.”

Campos e Cunha explicou ainda a sua visão para as Finanças: havia funcionários públicos a mais, que a alta-velocidade não era necessariamente um TGV, e que, obviamente, todo o investimento público tem de ser estudado e analisado. Tratava-se de um ministro bicudo, quadradissimo.

A análise que se fez então foi reveladora de como as questões complexas são tratadas pela comunicação social. Peres Metelo, na sua habitual crónica da TSF, argumentou que no dia do debate das GOP era evidente o cansaço físico e intelectual do ministro, “que estava mais magro”(!). Recentemente o Ministro da Presidência explicou, numa entrevista, que a escolha de Campos e Cunha foi como um erro de casting.

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Entretanto ligou-me o ministro da presidência a dizer que nunca tinha dito que a escolha de Campos e Cunha tinha sido "um erro de casting" e que tinha a melhor opinião do ex-ministro das finanças.
Em abono do direito à resposta peço-lhe que acrescente este comentário ao post anterior .

(Filipe Charters de Azevedo)

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© José Pacheco Pereira
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