ABRUPTO

24.7.06


COISAS DA SÁBADO: A GULBENKIAN

A Gulbenkian é das poucas presenças do Médio Oriente na nossa vida nacional, embora poucos a vejam assim. Gulbenkian era arménio, ou seja um homem de nenhures – pátria errada, religião errada, lado do mundo errado, péssima geografia, boa história, a combinação para o desastre. A Arménia era cristã em terras do Islão, e olhando-se à volta nos anos do fim do império otomano só se encontra esta geografia errada: gregos ortodoxos há centenas de anos vivendo em comunidades sob a égide do Sultão e depois do “Pai dos Turcos”, curdos entre várias possessões e o martelo de Ataturk, iraquianos sunitas e chiitas, a irem parar aos despojos ingleses do império, enquanto relutantemente sírios e libaneses ficavam franceses pelo mais absurdo argumento histórico: tinham sido “franceses” os “reinos” das Cruzadas. E depois o fogo zoarastriano eterno que escorria da terra, entre lamas e betumes, e de que Gulbenkian tirava os seu proverbiais cinco por cento, e nós o verdadeiro Ministério da Cultura que nunca tivemos.

É por tudo isto que a melhor comemoração do aniversário é a exposição sobre a “arte do livro do Oriente para o Ocidente”, que através dos livros da colecção Gulbenkian nos lembra essa origem e essa história entre dois mundos que se conhecem pouco.

NOTA: Livro veneziano do século XVI, com capa ao estilo oriental.

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© José Pacheco Pereira
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