ABRUPTO

8.8.05


OS FOGOS, A COMUNICAÇÃO SOCIAL, O GOVERNO, E NÓS





Li o seu post sobre o incêndio na A1 e não resisto ao “contraditório” (...) da a sua frase: “fiquei ainda mais convicto que, pelos órgãos de informação, os portugueses não tem tido a ideia da gravidade dos incêndios este ano.” Destaco as primeiras páginas de 14 Julho e de 4 de Agosto. Há mais primeiras páginas e, há pelo menos três semanas, que publicamos noticiário substancial sobre esta matéria, como o havíamos feito no final de Junho. Acho que o “Jornal de Notícias” tem sabido cumprir a sua tarefa mas, naturalmente, não temos o impacto das televisões.

(David Pontes)

Nota: David Pontes tem razão quanto ao Jornal de Notícias, e esta capa, anterior ao surto de incêndios dos últimos dias, é rara (senão única) na atenção atempada a uma gravidade que não se quis ver. Mas que existe um problema de apatia, indiferença e desresponsabilização, e que muita comunicação social participa nessa ocultação, quiçá involuntária por falta de efeito de novidade, isso existe.

Há razões políticas - em que circunstâncias do passado é que um Primeiro-ministro poderia continuar a fazer as suas férias num safari no Quénia sem reparo público? Em que circunstâncias do passado é que as declarações sucessivas de desresponsabilização do ministro António Costa, passariam incólumes? Em que circunstâncias do passado é que o apelo patético que fez ontem de pedir o aumento de penas e a prisão dos presumíveis incendiários durante a época dos fogos , deixaria de provocar reacções? Em que circunstâncias do passado é que deixaria de se perguntar por que razão , se há pessoas que têm que ser encerradas numa prisão porque são pirómanas, o problema não é mais do foro médico do que judicial? Tudo ao lado, tudo fora do âmbito das responsabilidades do governo.

Mas há também algo de muito mais perigoso: um efeito de Mitrídates, muito dependente da forma como a televisão trata os fogos, como se cada ano de imagens exaustivas dos incêndios nos noticiários fosse gerando uma cada vez maior indiferença e habituação. E como os incêndios têm a desdita de ocorrer numa silly season em que agora se entende, por puras razões de audiência e de características do “produto”, não dever perturbar o sol e a praia, nem à classe média nem aos jornalistas, tudo continuará na mesma, ou pior.

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Mais sobre outras variantes do mesmo: Manipulação no Ma-Schamba e Mensal no Aviz.

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© José Pacheco Pereira
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