ABRUPTO

28.8.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
LISBOA EM CAMISA




Lisboa, Sábado, Agosto, final da manhã. Saio de uma loja e decido descer a Avenida da Liberdade, que se apresenta calma e prazenteira, a pé. (...) A avenida até é bem bonita apesar de haver ali um cidadão a aliviar-se junto de uma árvore. E pode-se dar um salto à Loja dos Museus no Palácio Foz a ver se se arranja um presente (...) . Descendo, chega-se ao Palácio Foz, aquele que tem várias montras, viradas para uma das principais praças de Lisboa, onde passeiam os turistas, sabes? Em Agosto, ao Sábado, em Lisboa? Pois bem, nessas “janelas/montras” poderás observar o mais fino pó lisboeta em quantidades admiráveis, inúmeros insectos mortos e os efeitos do sol no papel que forra as paredes. Tudo vazio. Mas estou a ser injusta: uma das montras não está vazia, tem uma fotografia encarquilhada de um dos salões do Palácio. Não me interessa, quero é a Loja. Que, por acaso, Estimado Cliente, lamentamos o incómodo, mas hoje Sábado, mês de Agosto, Lisboa cheia de turistas, excepcionalmente, estamos fechados entre as 12 e as 14. Por outro lado, se olhar para as nossas montras, Estimado Cliente, rapidamente perceberá que não estamos interessados em lhe vender nada. Vire-se e olhe antes para a Praça dos Restauradores, uma das maiores e mais importantes de Lisboa, e aprecie os prédios em decomposição.

Ou desça mais um pouco e aprecie o Éden que, na sua forma original não tinha as portas todas fechadas e os degraus imundos que hoje apresenta. Não, não parecia uma lixeira, que aliás se estende ao chão do restaurante contíguo e às portas fechadas da Estação do Rossio.

Recomecemos, nada de irritações, vamos até ao Chiado. O Rossio até nem está nada mal. Já no meio da Rua do Carmo um estaleiro de obras (já nem me lembro da Rua do Carmo sem estaleiro de obras...) e lojas fechadas. Um homem sem metade da pernas deitado no chão pede esmola.

Páro a ver a montra de uma livraria, a única que tem apenas obras de autores portugueses (Eça, Pessoa, Cesário) e vejo um livro que me faz sorrir: de Gervásio Lobato, Lisboa em Camisa.

São sempre os livros que nos salvam.

(RM)

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© José Pacheco Pereira
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