ABRUPTO

23.8.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
FALTA DE RESPEITO PELO TRABALHO DOS OUTROS

Vivo em Coimbra. Numa cidade engolida em fumo e cinza, há, para a maior parte das pessoas, assuntos justamente mais prementes que aquele que hoje aqui me traz.

Contudo não consigo deixar de pensar que é importante discutir-se uma questão que surgiu recentemente e que não me parece estar a ter o desenvolvimento que merece. Uma companhia de teatro, "Fatias de Cá" terá feito uma utilização abusiva ou pouco acautelada, do texto de Miguel Sousa Tavares. A ser verdade, não me surpreende pois houve uma ocasião em que uma outra companhia de teatro pretendia encenar "Constantim, guardador de vacas e de sonhos" e no lugar do autor aparecia não o nome de Alves Redol, mas da pessoa responsável pela adaptação... a qual não acolheu a minha crítica, quando confrontado com ela!

Esta falta de respeito pelo trabalho dos outros - e na blogoesfera não faltam reparos ao modo como, por exemplo, a imprensa escrita omite as fontes, nomeadamente blogs, onde encontra a informação ou sugestão dos temas que depois desenvolve e publica - não será o outro lado daqueles que só falam, só escrevem, só se exprimem a coberto do anonimato? Dito de outro modo, quando tanta gente não se respeita o suficiente para ter a dignidade de dar a cara por aquilo que pensa, como esperar que possa respeitar o que pertence aos outros?

O que faz a Sociedade Portuguesa de Autores? e a Comissão dos Direitos de Autor?

(Ana Pires)

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Foi tal o entusiasmo com que li o livro "Equador", que, logo aquando da sua publicação, senti um irreprimível impulso a divulgá-lo, recomendando-o a todos como uma obra imperdível. Miguel Sousa Tavares tem todos os motivos para sentir orgulho do seu trabalho e pretender preservá-lo.

A companhia de teatro "Fatias de Cá" (criado em Tomar em 1979), grupo de grande humildade, onde "todos fazem de tudo", utilizando de uma forma interactiva o património construído (de que é exemplo o Convento de Cristo) e paisagístico, tem já uma longa história de labor em prol da descentralização de acções culturais, tendo levado à cena, entre muitos outros espectáculos, obras como O Nome da Rosa, T de Lempicka, Rapariga com brinco de pérola, Diálogo das Compensadas, Tempestade, Sonho de uma noite de Verão e A Flauta Mágica, de autores que vão de Umberto Eco a Mozart, passando por Karl Valentim, Dario Fo, Frati, Gil Vicente, Yourcenar, Lorca e Shakespeare.

Desde há meses que o grupo desenvolvia o projecto de levar à cena a obra "Equador", teatralização da obra de Miguel Sousa Tavares, o que, necessariamente, seria do conhecimento do autor.

Um mês antes da estreia, o autor não permitiu a adaptação teatral do seu romance.

Dado o investimento já realizado, nomeadamente em adereços e guarda-roupa de época, decidiu o grupo criar uma nova história, passada no mesmo local e época – e, obviamente, com uma temática comum à do livro – a que deu o título "EQUADOR passa em S. Tomé e Príncipe", em cena de 19 de Agosto a 4 de Setembro, às Sextas, Sábados e Domingos, às 19h18, no Parque Ambiental de Constância.

Sendo admirador do trabalho de ambas as partes, não poderia deixar de expressar o meu sincero lamento por esta situação.

É pena que Miguel Sousa Tavares não tenha permitido a adaptação teatral da sua obra; é minha firme convicção que todos teríamos a ganhar com isso: autor, leitores, companhia de teatro e espectadores.

Não terá agido correctamente o "Fatias de Cá"; a adaptação "forçada" a que recorreu não deixará de ser apercebida como uma forma de oportunismo, eventualmente com consequências a nível jurídico, dada a possível alegação de plágio.

Mas tal como considero que o "Fatias de Cá" não tomou a decisão correcta, não posso também concordar com aqueles que, ignorando o percurso da companhia e o seu notável papel ao nível da promoção do desenvolvimento cultural de uma região, pretendam, mesmo que involuntariamente, arrastar o seu nome para a "lama".

(Leonel Vicente)

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