ABRUPTO

25.8.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
UMA "PEQUENA" (R)EVOLUÇÃO ...


A solução para o problema da limpeza das matas é simples. Basta uma "pequena" (r)evolução na mentalidade dos portugueses.

A EDP possui, em Mortágua, uma central termoeléctrica de resíduos florestais. A descrição que se segue foi retirada do sítio da Ciência Viva:

" A floresta foi e será sempre uma grande fonte de energia. Desde os primórdios da humanidade que é ela que fornece lenha para o Homem se aquecer e cozinhar os seus alimentos. Hoje em dia, esta energia que provêm das florestas, a biomassa, representa 15% da energia primária consumida no mundo inteiro. Em Portugal, existe apenas uma instalação de produção de electricidade utilizando como principal combustível a biomassa. Esta central é a Central Termoeléctrica de Mortágua, localizada na zona Centro do País, na margem direita da albufeira da Aguieira.

Esta central utiliza os resíduos florestais, muito abundantes naquela zona, para produzir electricidade, criando assim, além da energia que nos é indispensável no nosso dia-a-dia, condições que permitam aos proprietários florestais sentirem-se motivados para manterem as matas e florestas limpas. Desta forma, a Central de Mortágua contribui para a diminuiçãou do número de incêndios e para o ordenamento florestal da zona Centro do País, que produz anualmente um valor estimado de perto de 500 mil toneladas de resíduos florestais (biomassa).

A Central Termoeléctrica de Mortágua começou a operar em Agosto de 1999 e permite o escoamento de 100 000 toneladas ano resíduos florestais queimados numa caldeira de 33MWth. A Central tem uma potência instalada de 10MVA – 9MW e foi projectada para entregar à rede de distribuição de energia eléctrica cerca de 63GWh por Ano. "

Ou seja: o aproveitamento da biomassa não só é desejável, como rentável. E se o era com o petróleo a 20 dólares o barril, obviamente que também o é com o petróleo a 65 dólares por barril e mais será quando o petróleo atingir, brevemente, os 100 dólares o barril.

Eu faço parte do vasto grupo de pequenos proprietários florestais que jamais irá limpar as suas propriedades, mesmo com leis sobre limpeza coerciva. Vivo a muitos quilómetros de distância de nem-sei-quantas pequenas propriedades que herdei. Possuo 1 não-sei-quantos-avos dessas propriedades das quais não retiro qualquer benefício económico. Se alguém quiser limpar, desbastar, ordenar e disso retirar algum benefício económico, por mim óptimo.

A solução: deixarmos de idolatrar a propriedade privada como algo intocável, na qual ninguém tem o direito de entrar nem interferir. É uma questão de cidadania, de colocar o interesse público, comunitário, acima do interesse privado, beneficiando por consequência também o que é privado. Lembram-se do filme "Mentes brilhantes", sobre a obra e vida de John Nash, que ganhou o prémio Nobel da Economia? Ele acrescentou a uma teoria que já existia algo que os portugueses precisam de interiorizar: o interesse do grupo. À teoria que dizia "Numa organização, o benefício máximo é atingido quando todos os membros trabalham em prol dos seus objectivos particulares", John Nash acrescentou: " e dos do grupo".

A solução: legislar no sentido de atribuir poder e responsabilidade (à EDP, às autarquias, a quem quiser) para limpar, desbastar, ordenar (no sentido de abrir caminhos e corta-fogos, não no sentido de cortar a direito e replantar) toda e qualquer propriedade florestal, privada ou do estado (exceptuando aquelas cujos proprietários declarassem que o fariam por sua conta). O aproveitamento da biomassa para produção de electricidade tornaria a actividade rentável e mais centrais como a de Mortágua poderiam ser construidas. Limpavam-se as matas e florestas, produzia-se emprego e riqueza, diminuia-se a importação de petróleo para a produção de electricidade. Haja coragem política.

(Jorge Carvalho Silva)

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Há alguns anos, mais precisamente, 2002, no âmbito de uma visita de estudo á referida central termoelectrica, a certo ponto, somos informados dos longos e frequentes tempos de paragem na producão de energia electrica.

Pelo que nos explicaram, o processo era simples: Camiões carregados com bio-massa eram pesados á entrada, descarregavam o seu material, e recebiam o pagamento correspondente. Infelizmente, a grande maioria, talvez por omissão, não limpava o carregamento dos inúmeros pregos e outros materiais pesados como barras de ferro que se encontram frquentemente em florestas.

Ironias á parte, estes materiais, utilizados pela valorizada "esperteza saloia" do português, bloqueavam obviamente a producão, estragavam algumas máquinas, enfim, trucidavam o valor da própria central.

É o enraizamento destas atitudes que mata o progresso. E é uma atitude que não se resolve com financiamentos público ou privados, com uma organizacão social ou liberal. Como resolver, não sei. Mas creio que a desmistificacão de alguns valores como a ética e a honra, e o incentivo diário da bocalidade e êxito fácil nos meios de comunicacao social, é o que mais tem impedido a inversão destas mesmas atitudes.
(Daniel Rodrigues)

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