ABRUPTO

8.8.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
QUE CANSAÇO?



A propósito desta sua questão,

"Que cansaço faz parar o país dos que menos tem razões para estarem cansados?"

Que cansaço leva um ministro das finanças acabado de empossar a entrar em férias?
Que cansaço leva um primeiro-ministro fazer férias tão pouco tempo depois de ganhar o poder? E com tão pouca coisa feita? Blair, por exemplo, não foi de férias, continua a trabalhar para tentar proteger o Reino Unido do terrorismo. É uma grande diferença de visão das funções de Estado.

A propósito de Blair, há um programa na televisão britânica em que o Primeiro Ministro se submete a questões (de natureza política) do público presente. Não são "empresários", nem "representantes da sociedade civil", nem antigos ministros, nem representantes de partidos políticos (hoje em dia estão sempre presentes em todos os debates, como se estes se esgotassem nas opiniões oficiais dos partidos).
Muitas perguntas feitas a Blair são bem colocadas, difíceis de responder, desconfortáveis (muito mais desconfortáveis do que as perguntas feitas por muitos jornalistas). Mas Blair está presente e responde.
Seria possível, com a nossa tradição política e jornalística, um programa desta natureza?

Por fim, uma questão, que surgiu ao ler este excerto do texto da reunião da Comissão Permanente da 1.ª Sessão Legislativa de 14 de Agosto de 2003: "Já o Sr. Presidente da República andava há vários dias no terreno sugerindo, aliás, a declaração de calamidade pública ." A pergunta é esta, se a situação este ano é muito mais grave, onde anda hoje o Presidente da República, que no ano passado andava "há vários dias no terreno?" Será que também está cansado?

(Paulo Agostinho)

*

Agora que me envolvi directamente, durante dois dias, lutando até desfalecer, no meio de um inferno de chamas e fumo ardente, procurando defender a humilde casa de meus pais - lugar de memória da minha infância e recanto de paz nos encontros domingueiros de três gerações – melhor entendo o valor da enorme solidariedade e abnegação do nosso povo. Pude testemunhá-lo: somos de facto um povo bom e generoso sempre que é posto à prova. E que não pára para ir a banhos, como tantos outros, não mostra cansaço, mesmo em condições sobre-humanas. Porque é pobre e os pobres sabem sofrer.

Mas é triste, de uma tristeza infinita, observar o nosso vasto e rico património florestal e ambiental, desaparecer num ápice, perante a nossa impotência, com consequências tão nefastas que provavelmente ainda nem nos demos conta, tal é o estado de pasmo e incredulidade com que olhamos, atónitos, estas manchas intermináveis de paisagem negra, bélica, ainda ontem tão fresca e paradisíaca.

É este sentimento de raiva interior, que ora se abafa, ora parece explodir, por verificar que os mais pobres continuam os mais sofredores, as suas casas as que ardem, o seu desespero o mais ignorado. Entregues a si próprios e ao seu destino, apenas podem contar consigo e a solidariedade possível. E ficar mais pobres. Ignorando e desprezando, por não ser seu, “um mundo” de discursos televisivos e climatizados, políticos, repleto de comparações, estatísticas, acusações, promessas, legislações, programas…jamais cumpridos ou a cumprir porque, definitivamente, somos governados por incompetentes.

Razão tem o meu pai, 75 anos, mas extremamente lúcido, confessando a um órgão de informação ( os novos paparazzi do fogo ! ) face ao cenário de tragédia jamais visto na sua aldeia: - “ Tivesse eu agora 20 ou 30 anos, voltaria a emigrar para bem longe e tão cedo não regressaria a este triste e pobre país.”

E nós, valerá a pena ficar? Até quando?

(M.Oliveira, Lavradio - Leiria)

*

É apenas uma opinião, mas esta calamidade dos incêndios serve, antes de quaisquer outras considerações, para avaliar da pobre situação em que anda o nosso poder autárquico. Não é o governo que deve agora andar a correr o país a assoprar na comunicação social um ou outro remedeio. De facto José Sócrates, ao invés se ter afastado do país, deveria agora estar a trabalhar a fundo no planeamento do ano que vem já aí. Mas aquilo que me surpreende mais, e pela negativa, é o desleixo dos próprios habitantes locais, e a falta necessária de apoio e coordenação das autarquias em acautelarem a tempo a vida dos seus municipes. No caso das florestas eu diria que não se pode culpar a própria natureza por fazer o seu papel. Mais tarde virão as chuvas e novos rebentos de árvores.

(António Fonseca)

*

Sendo todos vós tão inteligentes,e com grande mediatismo, como não viram ainda,ou ainda não foram capazes de dizer, que os grandes culpados dos Incêndios, não são o Governo ou os Autarcas e/ou os Bombeiros - sempre os atacados por V.Exas - mas sim aqueles que choram ao ver as suas coisas ardidas?
Quando é para limpar, ao menos os arredores das suas casas, quintas ou florestas não tem dinheiro nem tempo ... quando ardem todos são culpados menos eles.!!!!!!!!!!!!!
Gostaria de ver as Autoridades, actuando com multa a todos os que não cumprem a LEI !!! Ai que d´el´rei, lá estão a perseguir, com o intuito do lucro, etc, etc, etc.
Suas excelências que sempre defendem que o Estado não se pode substituir às pessoas, aos privados .... serão que nessas Vossas análises estão a ser sinceros e coerentes ?
(...)

(Elias Joel)

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