ABRUPTO

22.8.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O FOGO QUE ARDE SEM SE VER / O FOGO QUE ARDE PARA SE VER




É de estranhar, ou talvez não. Onde estou a ter uma noção mais real dos incêndios que assolam Portugal, é nos meios de comunicação internacionais - El Pais, CNN, BBC, O Estado de São Paulo. Por cá, uma notícia ou outra, sempre tarde, sempre depois dos jornais online estrangeiros. Faço um esforço enorme para tentar não comparar este caso com um que se passou há bem pouco tempo: o do Prestige, em Espanha. Tudo o que se sabia, sabia-se primeiro "lá fora". Porquê?

(Rodrigo Reis)

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Li o seu post, compreendo a indignação mas estou em paz em relação ao fenómeno que descreve pelo simples facto de que não é suposto haver notícias nos orgãos de informação, em especial nos notíciários da televisão, apenas espectáculo. Infelizmente nem como espectáculo é bom.

A metodologia é sempre a mesma. Está tudo a arder numa povoação da qual nunca ninguém ouviu falar, e logo o jornalista repete à exaustão o nome da povoação por si descoberta (aquele lugar literalmente apareceu no mapa com a chegada do jornalista, supõe-se).

Depois há que filmar muita chama. O que ardeu, onde ardeu, quando ardeu, porque ardeu interessa apenas como fundo sonoro às chamas, e na medida em que possa ser expresso sobre a forma de lamentos pela riqueza ardida, dos trabalhos de vidas perdidos num segundo, das casas cercadas de chamas.
Meter a câmara dentro do fogo ou debaixo dos baldes dos helicópteros. Isso é o mais importante.

Os jornalistas de serviço aos incêndios repetem-se. A sua voz cansa mais que as imagens do incêndio. Fazem-me lembrar o Rufino a discursar no Teatro da Trindade, em Os Maias. Tudo muito palavroso, arte nenhuma. Assim os incêndios têm sempre origem criminosa (o jornalista consegue sempre encontrar alguém disposto a afirmá-lo), os meios nunca chegam (pois se está tudo a arder!), perdeu-se sempre imensa riqueza, (a mata estava ao abandono, por limpar, prevenção não se fez, planos de emparcelamento nunca houve, mas foi o trabalho de uma vida que desapareceu, assim se trata a riqueza em Portugal). Análise crítica da situação, do âmbiente, das causas, zero.

As emoções de quem chora a perda do que era seu são exploradas até ao tutano. Velhinhos a chorar, homens feitos de voz embargada, mulheres estéricas, o povo a correr de um lado para o outro, alguém que não perdeu nada e só viu arder a pedir a pena de morte para os incendiários! É impressão minha ou existe preconceito social nas representações mediáticas destes pobres rurais?

Que tenhamos de viver com o infotainment, deverá ser uma daquelas fatalidades geradas pela sociedade em que vivemos. Mas será que as televisões consideram o seu público tão formatado, tão igualizado, tão despersonalizado, a ponto de, em plena época de marketing directo, em que as fábricas de automóveis não produzem dois carros iguais seguidos, os noticiários sejam todos ... modelo T.

(Mário Almeida)

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Se calhar era uma boa altura para através dos blogs se referenciarem os fogos e sua gravidade. Desde ontem que através da rádio ouço falar em um grande incêndio em Viana do Castelo, na mata junto ao monte de Santa Luzia (correm as festas da Agonia…) pela Renascença sei que já foi evacuado um hotel e foi mesma considerada a hipótese de evacuar o Hospital de Viana (a acontecer creio ser caso raro no nosso país).

Vivo em Braga, da minha janela, há mais de 24 horas que ao longe tenho um fogo imenso entre os concelhos de Braga e Barcelos… ninguém dá conta nas notícias.

Quanto a ministros… um que disse que não se passearia junto ao fogo para aparecer na TV (deve haver um registo disso numa qualquer acta da Assembleia da República), aparece agora, qual emplastro, no ombro de um primeiro ministro que pelo segundo dia está na região centro… Creio que muitas leituras políticas se poderiam fazer destes actos…

(Emanuel Ferreira)

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