ABRUPTO

22.8.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O KURSK DE JOSÉ SÓCRATES




RECENTEMENTE, quando um pequeno submarino russo esteve em dificuldades, foi feito um apelo à ajuda internacional e, mesmo em cima da hora, a tripulação foi salva. Quando o drama se iniciou, todos se recordaram do desastre do Kursk, cujos marinheiros, muito possívelmente, foram vítimas da arrogância do Poder.

Lembro-me bem de, nessa altura, ter estranhado que Putin, de férias nas praias do Mar Negro, não as tenha interrompido. Claro que ele não era mergulhador (como Sócrates não é bombeiro) mas, dada a sua posição, talvez tivesse podido tomar algumas iniciativas que salvassem as vidas daqueles homens. De qualquer forma, a sua atitude de continuar as férias como se não fosse nada, foi um «sinal» de frieza e de insensibilidade que caiu mal.

Ora, é nessa «gestão dos sinais» que os políticos, rodeados de assessores e yes-men que os isolam do mundo-real, são muitas vezes extremamente desastrados.

Eles não conseguem, pura e simplesmente, aperceber-se de como são vistos pelos outros. No nosso caso, só assim se compreende a displicência com que, ultimamente, o governo de Sócrates e ele em pessoa têm dado sucessivos tiros-nos-pés como se fosse a coisa mais natural deste mundo. A expressão brasileira «eles não se enxergam» tem outro significado, eu sei. Mas às vezes apetece usá-la, aqui e agora...

(C. Medina Ribeiro)

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© José Pacheco Pereira
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