ABRUPTO

21.8.05


LER OS JORNAIS / VER A TELEVISÃO E NÃO ENCONTRAR AS NOTÍCIAS



1. Experimentem procurar nos órgãos de informação uma notícia. Uma notícia necessária, útil, para quem está rodeado pelo fumo e lhe cai cinza em cima. Onde é que há incêndios, qual a sua gravidade? Bem podem procurar que não encontram.

Experimentem procurar na televisão, nos noticiários, que não encontram. Nos noticiários a informação depende das imagens e as imagens são quase sempre obtidas sobre os fogos como estavam, quando foram recolhidas as imagens e não como estão. Como estão, depende da presença de jornalistas nos locais para haver directos. Ora os jornalistas quase sempre vão (foram) para os fogos mais antigos, e não para os mais recentes. Por isso, várias horas depois de se ver um grande fogo na serra ao lado, ele, quando muito, está no noticiário do dia seguinte, a não ser que haja mortos e feridos.

2. Com as tecnologias modernas de informação ao dispor de uma redacção e mesmo com meios humanos mais escassos devido às férias, isto é um mau trabalho, um trabalho feito de rotinas que não se adaptam a informar, a informar a tempo, para que as notícias sirvam as pessoas. Os jornais também não são muito úteis, mesmo os que têm actualizações em linha, porque as notícias da Lusa são demasiado genéricas.

PARA O FUTEBOL TODOS OS MEIOS, PARA OS INCÊNDIOS O QUE SOBRA

3. Isto é mau trabalho, porque se aos incêndios fossem aplicadas as tecnologias e a vontade, esta é que é a questão, a vontade, que se dedica ao futebol, onde o mínimo sobressalto de um jogador ou treinador, é extensivamente coberto em tempo quase real, já para não falar dos golos, talvez houvesse melhor informação sobre uma matéria de mais relevante interesse público.

A TIRINHA QUE PASSA EM BAIXO

4. Como seja usar-se a tirinha em baixo, que agora serve para manter a boa consciência editorial de que sempre se dão as notícias importantes, pelo menos na tirinha, para informar sobre os incêndios, perdão, as “ignições”, que não estão “circunscritas”. Pelo menos com a identificação do concelho e das freguesias, para ser útil às pessoas que lá vivem. Porque , convém lembrar, os incêndios são mais do que notícia, para quem vive perto deles, ao lado deles.

O USO ESCASSO E RUDIMENTAR DE MAPAS

5. Ou rever de vez o uso arqueológico dos mapas nos noticiários, um bom exemplo do desleixo das redacções na utilização de tecnologias mais que disponíveis. Os mapas que aparecem nas notícias para além de muito escassos, - mapear informação sobre incêndios é um upgrade importante no conteúdo informativo – são rudimentares, e imprecisos. Acaso a sobreposição sobre esses mapas de figurinhas com chamas por cima das capitais de distrito é informação? As redacções lisboetas acham que os lisboetas sabem onde é a Pampilhosa da Serra? Ou Valongo? Ou os portuenses sabem onde é Ourém?

NO PÚBLICO NADA ACONTECEU ONTEM

6. Não sei se isso se deve a faltas de texto na edição digital ( a única que consultei), ou a uma sua arrumação inesperada, mas não encontro no Público de hoje qualquer notícia relevante sobre o que aconteceu ontem, quando o país teve uma das séries mais graves de incêndios. No “Nacional”, nada; na “Sociedade” (o Público noticia habitualmente os incêndios na “sociedade”, deve ser uma metáfora), nada. Alguma coisa apenas nos suplementos locais, mas sem actualização.

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Para ter notícias em tempo real sobre os incêndios, o melhor meio é ainda a rádio. Tenho ouvido a Antena 1 nos últimos tempos, e costumam referir os locais dos incêndios. Há depois as fotografias de satélite do dia anterior (nem sempre encontro a fotografia da Península Ibérica, pelo que deduzo que a cobertura não é completa). A fotografia de ontem mostra um impressionante "enxame" de incêndios, especialmente no norte de Portugal.
(A.)
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À falta de informação mais precisa e consistente na comunicação social sobre a grave situação que actualmente devasta o país, julgo que os dois links que abaixo transcrevo poderão deixar uma imagem clara da tragédia que actualmente nos atinge, aqui e aqui.

(Leonel Silva)

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