ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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11.8.05
COISAS DA SÁBADO A MORTE DOS JORNAIS A morte dos jornais Capital e Comércio do Porto, deixa-nos a todos mais pobres, porque o fim de um jornal é sempre um empobrecimento do espaço público. Mas é preciso ir mais longe, porque um jornal, como outras coisas, não tem um direito natural a existir. As opções da sua gestão, direcção e jornalistas tem também um papel e ele deve ser discutido. Como de costume, as culpas são só assacadas à administração, esquecendo-se que a Prensa Ibérica salvou os jornais de uma morte anterior e deu-lhes uma última oportunidade. Não acompanhei sistematicamente os últimos dias do Comércio, mas era leitor diário da Capital desde que Luis Osório assumiu a direcção. Leitor em papel, portanto não foi por mim que o jornal acabou. O jornal de Luis Osório tinha características sui generis que o podiam tornar interessante – e foi notório o esforço para fazer diferente. O jornal procurou novos temas, novas notícias, mas nunca conseguiu encontrar um equilíbrio entre aquilo em que era único, e aquilo em que permanecia pior do que a concorrência. A uma determinada altura, parece ter desistido e ficou uma coisa a meio termo, nem um jornal como os outros, cobrindo a actualidade diária, para que não tinha redacção nem meios, nem um jornal alternativo para que lhe faltou o fôlego. As fragilidades da Capital não vinham apenas da notória escassez de meios, mas também de decisões editoriais. Uma é o arranjo gráfico, porque poucos jornais tinham tão mau grafismo como a Capital. O grafismo era inimigo do conteúdo porque havia alturas em que o jornal podia ter as coisas mais interessantes do mundo, mas era ilegível, ou aborrecido até ao limite. Depois, muitos dos jornalistas escreviam opinião e se exceptuarmos um ou dois casos, quase sempre de não jornalistas, como as colunas da última página, essa opinião era completamente desinteressante, ligeira e paroquial. Não teria sido melhor que o trabalho de jornalistas, certamente sempre escassos, fosse utilizado para tratar textos gigantescos, publicados quase sem subtítulos, contra todas as regras de legibilidade? A Capital vai-me fazer falta, mas sempre que eu via um número revoltava-me a incúria com que era feita. Eu sei que é duro dizer isto, mas não era segredo para ninguém, a começar pelos seus leitores, que o desastre era inevitável. * (Transcrevo o texto integral da nota que publiquei na Sábado da semana passada e que foi objecto de duas citações convenientemente truncadas, A coerência de um pensador luso (NCS) e Abrupto ou abutre? (LFB), de responsabilidade de jornalistas e colaboradores da Capital, não identificados enquanto tal, reveladoras de uma desonestidade intelectual evidente. Eu percebo muito bem o que é que os incomoda no texto e que, por acaso, não transcreveram. O leitor que julgue e compare este texto com o que publiquei há um ano atrás no Abrupto sobre o jornal.) (url)
© José Pacheco Pereira
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