ABRUPTO

21.7.05


LENDO OS JORNAIS: PORQUE É QUE É INÚTIL ENTREVISTAR ASSIM LOUÇÃ

(Transcrito do Público de hoje. Perguntas a bold, respostas de Louçã em itálico, comentários meus entre parêntesis rectos)

Pelo que diz concluo que já não é trotskista.

O Trotsky teve um papel fundamental na luta contra o estalinismo, contra a estalinização, contra o que veio a ser o modelo soviético. Não só ele mas muitos outros.

[Não respondeu, o que dá a resposta.]

Ainda se define como trotskista?

Eu nunca me defini como trotskista. Defini-me sempre como marxista.

[Langue de bois. Os maoistas também não diziam que eram maoistas e os estalinistas idem.]

Integrou uma organização trotskista...
[Não “integrou”, dirigiu e não se sabe bem se dirige. Não se percebe porque razão a organização, o PSR, não é nomeada.]

Mas foi uma organização que nunca se definiu como tal, embora, e eu assumo isso por inteiro, o contributo do Trotsky tenha sido fundamental para pensar o socialismo de hoje. Como foi o de outros, como Rosa Luxemburgo ou Gramsci e alguns outros marxistas. A nossa herança é exactamente essa e vivia sempre da mesma forma.

[Langue de bois.]

Entre o Trotsky e a Rosa Luxemburgo há diferenças substanciais...
[Pergunta irrelevante. Seria bom que o leitor soubesse a que diferenças se está a pergunta a referir.]

Com certeza. Mas eu creio que o socialismo aprendeu com essas diferenças.

[Resposta inútil. O que era decisivo nesta conversa fica sempre vago e não nomeado. Trotsky e Rosa Luxemburgo defendiam a violência revolucionária e a versão da Internacional Comunista da revolução e da ditadura do proletariado. Aqui não há diferenças.]

No BE ainda há marxistas-leninistas?

Depende do que quer dizer com o conceito marxista-leninista.
[Esta frase traduzida significa sim.] Há leninistas certamente, há leninistas que são marxistas. Agora o marxismo-leninismo foi entendido muitas vezes como uma representação do estalinismo e isso não há. Como há não marxistas.

Mas o BE como movimento identifica-se com o leninismo?

Não, o BE não tem que se identificar com o leninismo.

[Resposta ambígua, este "não tem que" é mais que dúbio.]

Portanto, não há ideologia única?

Não há nem vai haver. Como sabe, aliás, o BE nasceu e só podia ter nascido assim não por uma fusão ideológica que reinterpretasse o passado, mas por uma definição da agenda política e do programa. O programa constrói-se na luta social, nas alternativas políticas para o país, para a Europa. E foi isso que nos permitiu aprender um nível de política completamente distinto do que a esquerda radical tinha feito em Portugal durante 30 anos. Nós mudámos completamente a capacidade de actuação política e social, tornando-nos uma força política influente

[Fuga em frente, nada é concreto. Um novo conceito aqui se aplica: enguiismo ideológico.]

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© José Pacheco Pereira
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