ABRUPTO

25.7.05


CANDIDATURAS PRESIDENCIAIS – ALGUMAS OBSERVAÇÕES

Este vosso autor foi o último a confrontar eleitoralmente Mário Soares, nas eleições europeias de 1999. Não serve de argumento de autoridade, mas talvez convenha lembrar que, quando Soares anunciou a candidatura, se previu um cataclismo para o PSD. Marcelo Rebelo de Sousa tinha iniciado uma AD com Paulo Portas e tinha escolhido Leonor Beleza para estar à frente da lista das europeias.

Depois tudo mudou, rompeu-se a coligação, Marcelo foi-se embora e fui eu o candidato contra Soares, quando as sondagens davam 18% ao PSD mais o PP e uma mais que maioria absoluta a Soares. O PP avançou com Paulo Portas na sua fase mais radical da palmeta e da pêra-rocha. Soares esgrimiu na campanha a sua quase inevitável ascensão à Presidência do Parlamento Europeu, e apelou a que os portugueses votassem no “Presidente” do Parlamento Europeu.

No fim, o PS ganhou, mas se houve “efeito Soares” como toda a gente antecipava, foi no roubar de votos e deputados ao PP e ao PCP, porque ao PSD não tirou nenhum. O PSD manteve o mesmo número de deputados e esta foi a única eleição, entre várias nesses anos guterristas, em que o PSD não perdeu nem lugares, nem posições. A seguir Mário Soares empurrou o grupo socialista do Parlamento Europeu para uma estratégia suicidária de ou tudo ou nada, que conduziu ao nada.

Digo isto para lembrar que serei certamente o último a “aterrorizar-me” (ridícula expressão) com a candidatura de Mário Soares.

Acrescento que fiz parte do MASP I e II, ou seja que apoiei sempre as candidaturas presidenciais de Mário Soares e há para mim uma diferença essencial entre essas candidaturas e a actual: Soares está hoje longe de ser um candidato que mobilize o mesmo espaço político das suas anteriores candidaturas. Se quisermos utilizar os posicionamentos clássicos, Soares ia buscar votos essencialmente ao centro-esquerda e ao centro-direita e tinha dificuldades entre os comunistas e na direita. Tinha aliás mesmo dificuldades no PS, que só por arrastamento apoiou a candidatura na segunda volta de 1986. Hoje Soares tem mais entusiasmos no BE e nos sectores mais à esquerda do PS (embora Soares se tenha portado mal nestes dias com Alegre), do que no próprio eleitorado moderado do PS.

Quando vierem para cima da mesa as posições ultra-radicais de Soares, expressas nos últimos anos, em directa contradição com as posições do PS, perceber-se-á porque razão digo que Soares é a certeza, insisto, a certeza, da instabilidade política para o governo actual. Não é só a natureza das posições de Soares, é o dogmatismo e a irritabilidade com que as defende. Soares na Presidência não actuará contra o PS, porque tem uma cultura jacobina de partido, mas será frontalmente contra “este” PS. Só não vê quem não quer ver.

(Continua)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]