ABRUPTO

1.3.05


BIBLIOFILIA: O CAIXEIRO FELIZ

Voltamos ao nosso tema bibliófilo: o tempo encerrado nos livros velhos. O tempo não no conteúdo, mas em tudo, no “ar” do livro. Este é um bom exemplo e custou-me 50 cêntimos num alfarrabista do Porto. Foi escrito por Diogo de Sequeira e Costa e tem dois títulos, um na capa - Um Caixeiro Feliz – Romance Histórico da Vida d’um Rapaz Pobre (Como Thiago Chegou a Ser Rico) – e outro no rosto Como se Chega a Ser Rico – Romance popular, Instrutivo e Recreativo. Fazia parte da Biblioteca Interessante – Números Soltos e foi editado por João dos Santos Ferreira, em 1916. Era dedicado "aos proprietários do comércio e seus empregados em geral” e fazia parte de um literatura produzida e dirigida a uma classe profissional de elite, aqui os empregados do comércio. Há também literatura semelhante oriunda de tipógrafos, ferroviários e barbeiros, grupos profissionais que tinham um número razoável de alfabetizados e com tradição de literatura amadora. Na contracapa, dizia-se que o livro tinha fins beneficentes e ,quem o comprava, ajudava um tipógrafo doente e uma sua filha paralítica. Retratos do mundo antes da segurança social.

A história, passada em Paris, é o menos importante neste “ar” do tempo. É uma típica versão do sempre atractivo tema da ascensão social a partir da pobreza, dos “lances triviais da pobreza e desvalimento”, pelo trabalho e pela “perseverança”. Trazia esperança, sonho e pedagogia moral. Valia os 200 reis que custava.

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© José Pacheco Pereira
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