ABRUPTO

8.7.04


TEMPOS DUROS

Aproximam-se tempos duros na nossa vida política, seja qual for a decisão do PR. Haverá um maior radicalismo no discurso político, efeito da deserção do centro e do reforço dos extremos. Os alinhamentos, parte artificiais, parte naturais, das “esquerdas” e das “direitas” em blocos trarão mais veneno ideológico do que clarificação. Todos vão falar uma linguagem do passado, que é a que vem ao de cima quando o debate se faz debaixo das bandeiras da “esquerda” e da “direita”, num mundo cuja complexidade está para além do legado da revolução francesa e da revolução industrial que construíram essa dualidade arcaica. Depois da Bomba, depois do Holocausto, depois do Gulag, depois da globalização, depois da revolução mediática (no sentido de McLuhan), depois da Rede e das redes, depois do terrorismo apocalíptico, depois de tanta coisa, ainda tendemos a sentar-nos na Convenção como descrevia Victor Hugo no Quatre-vingt-treize:

“Qui voyait l'Assemblée ne songeait plus à la salle. Qui voyait le drame ne pensait plus au théâtre. Rien de plus difforme et de plus sublime. Un tas de héros, un troupeau de lâches. Des fauves sur une montagne, des reptiles dans le marais. A droite, la Gironde, légion de penseurs; à gauche, la Montagne, un groupe d'athlètes."


Todos vão acentuar a identidade dos extremos, que passarão a falar por dentro dos grandes partidos, adormecidos e acomodados, presos ao poder pela clientelização interna. O PP e o BE serão os fiéis de partidos que, ao abandonarem o centro político, perdem a possibilidade de terem maiorias estáveis de governo, maiorias absolutas. Nem o Diabo tem capacidade para escolher.
Temos que ser nós.

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© José Pacheco Pereira
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