ABRUPTO

8.7.04


INGENUIDADES

Existe em certos sectores da direita e da esquerda intelectual portuguesa a ilusão que um governo Santana Lopes será um governo que prosseguirá políticas liberais, ou, como pejorativamente agora se diz, “neo-liberais”. Enganam-se completamente. Se há coisa que em Portugal sofrerá com o populismo é o discurso genuinamente liberal. O populismo é nacionalista, defensor da closed shop, “social” e clientelar. O populismo será alicerçado em duas coisas muito próximas na vida política portuguesa: um discurso social, que pode mesmo chegar a ser socializante, e na gestão de clientelas. É uma fórmula muito eficaz em Portugal, potenciada agora pela forma como actuam os media.

Aliás a experiência de Santana Lopes na área da cultura é disso um bom exemplo. Não difere, a não ser nas clientelas e na simbólica cultural, da de Manuel Maria Carrilho. Um falava para as "vanguardas" outro para as "rectaguardas", ambos subsidiavam activamente. Basta ver como Eduardo Prado Coelho, um bom barómetro nos momentos decisivos, hesitou em condena-la, como num celebre debate - comício sobre a reconversão do Parque Mayer que passou na televisão há uns anos. É uma política à Malraux / Lang, com uma forte componente estatista e proteccionista, feita a favor da glória do estado, e pela glória dos governantes, a forma mais eficaz da propaganda moderna.

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© José Pacheco Pereira
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