ABRUPTO

10.12.03


MAIS OPINIÕES SOBRE O VÉU ISLÂMICO – O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES




"Eu diria mais, é um sinal de resistência de comunidades islâmicas à nossa ideia civilizacional e aos valores que a sustentam. É também um problema da condição da mulher no Islão. "

Não concordo com o ponto de vista desta leitora. E se concordasse também diria que os hábitos judeus de uma certa forma de vestir e a utilização de certos adornos seriam uma imposição daquela comunidade às restantes. Nos EUA e em outros paises, onde certas comunidades judias se regem por valores mais conservadores e tradicionais, não há leis jacobinas que impoem aos judeus vestirem-se à ocidental. Como disse em anteriror mail, não acho que tenhamos o direito de dizer a terceiros o que é certo ou errado. De facto, muitas mulheres islâmicas querem seguir alguns desses costumes culturais ou religiosos e não somos nós que devemos interferir na sua liberdade como eles/elas não têm direito de o fazer na nossa. No entanto, não quero eu dizer com isto que não concorde com a "igualdade e pluralismo" para ambos os sexos mas compete-nos a nós fazer isso em outros países? Porque não olhamos para a nossa realidade onde a religião dominante preserva o papel da mulher como secundário?"


(Nuno Figueiredo)


Gostaria de fazer alguns reparos 'a discussão sobre o véu islâmico na Alemanha, pais onde vivo há cerca de 8 anos. A discussão alema, embora por vezes use argumentos semelhantes aos da discussão francesa, e' na raiz algo diferente. E' que embora os alemães nÃo sejam profundamente religiosos, ha' na Alemanha, sobretudo no ocidente, uma consciência de identidade crista que contrasta com o laicismo (ideológico) francês. A separação entre estado e religião nao anda aqui na ponta das línguas. O argumento mais usado diz respeito ao facto de o véu ser um símbolo de repressão sobre a mulher no Islão. O argumento mais calado e' uma certa antipatia pela comunidade de dois milhões e meio de turcos, muitos dos quais nÃo se integraram no grau que seria desejável.

Ao contrario do que afirma a leitora Ana Aguiar, o véu e' proibido nalguns lugares de trabalho, por exemplo em certos armazéns que consideram que uma vendedora de veu afasta os clientes. No entanto o caso mais mediático, que se arrastou pelos tribunais nos últimos anos, e' o de uma professora de origem iraniana no estado de Baden-Wuerttemberg que faz questão de dar aulas de véu, tendo a oposição dos pais dos alunos, da escola e do dito estado. Curiosamente, existem algumas dezenas de professoras na Renânia do Norte-Vestefalia que usam o véu, sem que tal tenha sido posto em causa.

Num programa televisivo de humor alguém observou que "agora as únicas mulheres de véu que podem entrar naquela escola são as empregadas da limpeza". Eu nunca proibiria o véu. Uma muçulmana com um curso superior e a exercer um emprego e' na minha opinião emancipada o suficiente para não precisar de ser defendida pelo estado de símbolos de repressão. (Note-se que na Alemanha mais de 50% das mulheres são donas de casa, em Portugal menos de 30%.) Tenho notado que muitas muçulmanas com estudos superiores usam o véu como símbolo cultural ou forma de protesto, da mesma forma que muitos "verdes" usam cachecóis coloridos, cabelos desgrenhados e so' comem vegetais. Ou seja, de símbolo de repressão social o véu parece ter passado a símbolo contra a repressão social.

O argumento de que símbolos religiosos devem ficar fora da sala de aula e' algo que também não posso aceitar pela minha condição de católico. Sou a favor de uma freira poder dar aulas de véu e de cruz ao pescoço, como acontece em muitas escolas em Portugal. Também não tenho medo de que uma professora muçulmana converta a minha filha ao Islão pelo simples facto de usar o véu, nem acredito que tal fenómeno aconteça regularmente.

Sou da opinião de que nenhum estado tem o direito de perguntar porque e' que uma professora usa um pano na cabeça. Seja por opção religiosa, como símbolo cultural, porque acha que lhe fica bem, porque tem o cabelo ralo ou faz quimioterapia, o estado não tem nada a ver com isso. O que interessa e' saber se e' boa professora ou não."


(Filipe Paccetti Correia)

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