ABRUPTO

5.12.03


EARLY MORNING BLOGS 91

Ainda, pela manhã, o vento negro da noite. No Abrupto, aberta a porta do “Nec spe, nec metu”, alguns poemas sobre aquela que é talvez a mais importante lição dos clássicos que não se transmitiu aos dias de hoje: a ideia da aurea mediocritas, a força da ataraxia. E não se transmitiu porque a barreira poderosa do romantismo a impediu de passar. Vamos pois para o grande clássico moderno destas coisas do tempo, da duração, da finitude, da permanência, do modo de viver, da esperança, da contenção na felicidade possível, Ricardo Reis (cortesia de Manuel Matos):


"Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.

Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.

Tentemos pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E não querer mais vida
Que a das árvores verdes.

Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.

Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?"


(Ricardo Reis)

*

Boa noite, eternidade! Bom dia, finitude!

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© José Pacheco Pereira
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