ABRUPTO

2.12.03


CRUZ MALPIQUE, PROFESSOR

Curiosamente, a primeira vez que abri o seu ABRUPTO (23/11/03), encontrei uma referência a meu pai, o professor e escritor Cruz Malpique! Com efeito desde Luanda(onde foi professor,por ex.de Agostinho Neto entre tantos outros) ate ao Porto, passando por Macau,sempre encontrei pessoas que recordavam o prof. Malpique com a maior simpatia, com saudade desse tempo do liceu em que ficara gravada a memoria desse professor bem disposto,indulgente,ironico,com frases carismaticas,que lançava duvidas mais do que debitava certezas,que estimulava o debate de ideias,que nos exames deixava sempre que o aluno escolhesse o tema sobre o qual queria falar.

Nos seus livros e na educação das suas duas filhas,estimulou o dialogo e a curiosidade intelectual.Criticava azedamente o ensino que se fazia do Português e da Historia.Contra a Gramatica entendia que se aprendia a escrever, escrevendoEstimulou sempre a leitura e a escrita, a síntese oral do que se acabara de ler.Recordo~me das suas palavras: "se a leitura alimenta o pensamento, a escrita e um verdadeiro catalisador do pensar!"

Foi um apaixonado dos livros!E foi com desejo de continuidade desse amor pela leitura que legou ao Liceu Alexandre Herculano grande parte da sua biblioteca, numa sala que tem o seu nome. Propôs uma pequena colecta entre os alunos para aquisição de novos livros, e pediu que aquele fosse um espaço de leitura e dialogo mais personalizado entre professor/aluno.
Nâo sei que foi feito daquele espaço, mas doi-me que tenha sido abandonado…que nunca chegasse a ser utilizado como o professor Malpique pretendia! aquele espaço "faz falta"para meter mais e mais alunos,para nele transitarem professores "que dificilmente serâo recordados"porque mudam de 50 em 50 minutos e porque mudam de liceu quase todos os anos.Como diz Pacheco Pereira nâo deixam marca,nâo ficam como "personae".

A biblioteca que Cruz Malpique deixou ao Liceu Alexandre Herculano transformou-se num espaço morto,porque nunca se alimentou o espirito que lhe presidiu_ a leitura,o debate sobre a leitura,ou mesmo sobre o cinema, a TV ,a pesquisa na Internet, com ou na presença de um professor dialogante, sem programa obrigatório a cumprir.Um espaço/tempo dentro da escola, para alem das aulas e dos recreios,onde o contacto mais personalizado professor/aluno fosse possível.”


(Celeste Malpique)

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