ABRUPTO

13.12.03


COMO MUITAS VEZES ACONTECE

voltamos aos textos que ouvimos e lemos e reparamos em coisas novas, ou num novo brilho das palavras, ou num novo saber, ou apenas num esplendor renovado da mesma beleza. Desta vez, foi uma pergunta que se tornou insistente, exigente.

Estava a ler o texto do Requiem Alemão de Brahms, mas o texto bíblico soa sempre diferente noutra língua:

Jacobi 5,7

So seid geduldig. / Assim, então, tende paciência.
Denn alles Fleisch ist wie Gras / Pois toda carne é como a erva
und alle Herrlichkeit des Menschen / e toda a glória do homem
wie des Grases Blumen. / é como as flores do campo.
Das Gras ist verdorret / A erva seca
und die Blume abgefallen. / e a flor murcha.

Petri 1,25

Aber des Herrn Wort bleibt in Ewigkeit. / Mas a palavra do Senhor perdura eternamente.

É apenas um frgamento, nem sequer dos mais importantes e dramáticos do texto, e o que me interessou foi a frase “toda carne é como a erva”. A pergunta que me fiz , nem sequer muito presa ao sentido do texto, foi: quantos nazis, quantos torcionários, ouviram este Requiem com emoção, sentiram estas palavras, marteladas na nossa memória cristã desde a infância? Com genuína emoção? Certamente muitos.

Há qualquer coisa de errado na feitura dos humanos. Um bug, uma linha solta do programa, mesmo no sítio mais crucial, não no logos, mas no ethos.

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© José Pacheco Pereira
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