ABRUPTO

2.8.03


VER A NOITE - INCÊNDIO

Tenho um incêndio a quinhentos metros, atrás de uma curva de estrada , numa ravina coberta com mato. Não oferece perigo nem a pessoas, nem bens porque está uma noite sem vento. Os bombeiros não terão dificuldade em impedir que atravesse a estrada. Com vento seria indomável e subiria sem tréguas.

Um enorme clarão vermelho vulcânico ilumina a própria nuvem que produz. Ouve-se crepitar e o cheiro intenso penetra em tudo. É irónico que este festival de destruição produza um cheiro magnífico, à urze, ao mato queimado. Os carros de bombeiros passam sem as sirenes, desnecessárias porque não há trânsito. Uma agitação silenciosa perpassa nas pessoas, apanhadas na sua maioria já a dormir, pequenos grupos de vizinhos juntam-se a ver, a vigiar, inquietos.

Desci ao sítio das chamas junto do local onde os bombeiros esperam que o fogo se possa combater. O poder do fogo é enorme, uma coluna de chamas sobe e desce em altura conforme os arbustos que apanha, atirando línguas de fogo para o próximo ramo, para a erva seca. Atrás fica um círculo negro do que já ardeu, claramente delimitado por um risco de chamas.

É ainda um pequeno incêndio, sem perigo previsível, mas ajuda a perceber o que se tem passado.

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© José Pacheco Pereira
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