ABRUPTO

14.8.03


TÍTULOS QUE NUNCA USEI

Às vezes há textos à procura de títulos, outros títulos à procura de textos. Há muitos anos que dois títulos me perseguem, sei o que queria escrever para eles e nunca fui capaz, ou por pura incapacidade ou receio, medo, medinho.

É o caso de um texto sobre Portugal que nunca fui capaz de escrever com o título “Pode ser Vidago?”, excelente retrato de uma terra onde se pede uma coisa e nos perguntam se pode ser outra. Nós queremos Pedras, ou Carvalhelhos, ou outra coisa qualquer e respondem-nos quase automaticamente se pode ser Vidago. A resposta, como se sabe desde Eça, é pode… Pode ser Vidago.

O segundo título é o de uma canção que todos os anos ouço repetida mil e uma vezes nas festas populares: “Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré”. Aqui não teria nenhuma dificuldade em descrever a lagartixa, ou várias, e a impossibilidade genética de chegar a jacaré, mas depois, uma mistura de “para que é que eu estou a maçar-me” e uma réstia remota de caridade cristã ou de filantropia moscovita à Pessoa, lá me deixa o título no limbo.

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© José Pacheco Pereira
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