ABRUPTO

20.8.03


A MASTURBAÇÃO DA DOR

Devido às minhas estadias europeias tenho uma oportunidade de ver os normais noticiários televisivos, quotidianos, comuns, de várias televisões nacionais públicas ou privadas. Não me refiro às versões, que também se podem ver em Portugal, por cabo ou satélite, normalmente versões especiais, reduzidas, dos noticiários dos países de origem, mas diferentes em muitos casos do que passa às 13 ou 20 horas em Madrid, Bruxelas, Paris, Londres ou Berlim.

Não há qualquer remota parecença com os noticiários televisivos portugueses, com o exagerado tempo de “notícias”, com o caos da agenda noticiosa, com a repetição vezes sem fim e ao mais pequeno pretexto das imagens fortes, com a inserção de peças narrativo - ficcionais sobre noticias fortes do passado quando não há adrenalina no presente, com música de fundo e tratamento “estético” das imagens, com a utilização, sem qualquer pedido de autorização, de cenas de dor e choro, com jornalistas excitados a fazer simulações de riscos que não correm (houve várias nos incêndios para uma só genuína) e fazendo as perguntas mais estúpidas do mundo a pessoas que estão a sofrer.

Uma especialidade actual dos media televisivos, que teve o seu primeiro esplendor com a queda da ponte de Castelo de Paiva, é a masturbação da dor alheia.

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© José Pacheco Pereira
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