ABRUPTO

24.8.03


MARIO VARGAS LLOSA SOBRE O ATENTADO CONTRA A ONU EM BAGDAD

O artigo de Mario Vargas Llosa, que pode ser lido integralmente no Estado de S. Paulo , apresenta uma notável análise e uma acertada conclusão sobre o que se passou.:

"O atentado terrorista que destruiu a sede da ONU em Bagdá, matando mais de 20 pessoas e ferindo mais de 100 - o mais grave de que a ONU foi vítima desde sua criação -, já mereceu, como era de se esperar, leituras bem distintas. A mais enviesada ideologicamente, de meu ponto de vista, é aquela segundo a qual este atentado é uma demonstração do fracasso absoluto da intervenção militar no Iraque e da necessidade de as forças de ocupação se retirarem o quanto antes e devolverem a independência ao povo iraquiano.

Este aberrante raciocínio pressupõe que o atentado foi levado a cabo "pela resistência", ou seja, pelos unânimes patriotas iraquianos contra os invasores estrangeiros e seu símbolo, a organização internacional que legalizou a Guerra do Golfo e o embargo. Não é assim. O atentado foi perpetrado por uma das várias seitas e movimentos dispostos a provocar o apocalipse a fim de impedir que o Iraque possa ser, num futuro próximo, um país livre e moderno, regido por leis democráticas e governos representativos, uma perspectiva que com toda justiça aterroriza e enlouquece os assassinos e torturadores da Mukhabarat e os fedayn de Saddam Hussein, os comandos fundamentalistas da Al-Qaeda e do Ansar al-Islam e as brigadas terroristas que os clérigos ultraconservadores do Irã enviam ao Iraque.

Todos eles - uns poucos milhares de fanáticos armados, isso sim, de extraordinários meios de destruição - sabem que, se o Iraque chegar a ser uma democracia moderna, seus dias estarão contados, e por isso desencadearam essa guerra sem quartel, não contra a ONU ou os soldados da coalizão, e sim contra o maltratado povo iraquiano. Deixar-lhes livre o terreno seria condenar este povo a novas décadas de ignomínia e ditadura semelhantes às que ele padeceu sob a palmatória do Baath.

Na verdade, diante deste crime e dos que virão - agora está claro que as organizações humanitárias e de serviço civil passaram a ser objetivos militares do terror -, a resposta da comunidade de países democráticos deveria ser multiplicar a ajuda e o apoio à reconstrução e democratização do Iraque. Porque neste país trava-se nestes dias uma batalha cujo desfecho transcende as fronteiras iraquianas e do Oriente Médio e abarca todo o vasto domínio desta civilização pela qual sacrificaram suas vidas Sérgio Vieira de Mello, o capitão de navio Manuel Martín Oar, Nadia Younes e tantos heróis anônimos. "


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© José Pacheco Pereira
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