ABRUPTO

25.8.03


LER JORNAIS UNS DIAS DEPOIS

Eu leio os jornais na rede todos os dias e em papel uns dias depois, às vezes uma semana depois. São leituras muito diferentes, com tempos diferentes e com destaques diferentes. Uma das vantagens deste desfasamento é também verificar o que é que dura uma semana, que artigos têm um acrescento de informação ou mérito analítico para valer a pena lê-los fora da actualidade.

UM BOM ARTIGO

No Público de ontem , que li hoje, um record de rapidez entre o ecrã e o papel, há um desses artigos , um longo dossier sobre os fogos de 1980 até 2003, feito por Nuno Sá Lourenço, Patrícia Silva Dias e Ricardo Batista. Esse artigo dá-nos duas informações essenciais e inequívocas. Uma , a de que o problema não está no dinheiro, deitar dinheiro em cima dos fogos é o que se tem sempre feito sem resultado. Outra, corolário da anterior, é que os incêndios são um caso irrecusável de responsabilidade política. Nesta matéria, o país tem sido mal governado,

UM OUTRO PROBLEMA

Uma dos aspectos que pude observar durante a época dos fogos, vendo como se moviam as diferentes instâncias do poder, é a inexistência de continuidade entre os “poderes de cima” e os “poderes de baixo”, ou seja, a diluição das autoridades intermédias. “De cima” vem a melhor legislação do mundo, as melhores análises, a identificação de problemas genuínos; de “baixo” vêm as diferentes resistências sociais à mudança, dos proprietários, das autarquias, dos utilizadores dos baldios, dos madeireiros, dos construtores civis, das pirotecnias, dos que há muito fazem as mesmas práticas de risco, e acham que, como estão nas “suas” terras, podem fazer o que quiserem. As leis bem podem obrigar às mais racionais das obrigações, só que ninguém as aplica, nem os governos civis, nem a GNR, nem os bombeiros, nem os presidentes das Câmaras e Juntas. Quanto mais abaixo está uma autoridade, e as nossas estão quase todas em baixo, maior é a pressão dos interesses e menor é a vontade e a capacidade de agir.

Um bom exemplo do passado para estudar este mecanismo, foi a proibição das vinhas de “vinho americano”, em pleno regime autoritário, e as enormes resistências que causou, com conflitos, violências, feridos e mortos.

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© José Pacheco Pereira
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