ABRUPTO

24.8.03


”DECISÕES TERRORISTAS” – Segunda parte

A teoria de Paulo Varela Gomes sobre o terrorismo, que, bem vistas as coisas, é sobre a história, é de modelo nietzschiano. Os fazedores da história seriam uma espécie de Zaratrustas. que batem no ferro quente da humanidade com um gigantesco martelo , moldando assim o sentido da história . O martelo é a capacidade de “exagero”, de “loucura” (termos nietzschianos) de “decisão”, Isto tornaria os terroristas em “seres político-militares interessantes. Praticam a decisão e o exagero como formas de agir.

PVG veio, em seguida, precisar o sentido deste “exagero”, acentuando ainda mais os elementos nietzschianos na análise – veja-se o uso de termos como “vontade”, os “músculos da vontade”, e o papel do medo:

O exagero e e as decisões terroristas são como que figuras de retórica que, como todas, se encenam como verdade. Mas, além disso, encenam também a vontade soberana. Ou seja, se todas as decisões, sendo por definição arbitrárias, se apresentam como a "única" solução possível, ou a "melhor", as decisões que pratica o discurso exagerado ou a acção política terrorista derivam de uma dupla operação retórica: apresentam-se como a verdade mas também como uma exibição dos músculos da vontade. São, portanto, decisões persuasivas: podem fazer medo.

Para PVG esta característica de “vontade” igualiza os terroristas, os israelitas, e o trio conservador americano (Bush-Ramsfeld-Wolfowitz), não só na forma como actuam, como na possibilidade de “ganharem”. De forma coerente, PVG considera que os movimentos terroristas, a que chama de “terrorismo comunitário”, da Irlanda, do País Basco, do Médio Oriente, podem ser vitoriosos, do mesmo modo que os israelitas ou os americanos. O que torna o texto de PVG diferente é que, ao manter este leque de possibilidades, distancia-se muito do que é vulgar escrever-se sobre esta matéria.

(De passagem, porque não é central no argumento, PVG faz uma distinção contestável, entre “terrorismo comunitário” e “terrorismo meramente político” , o do grupo Baader-Meinhof, BRs e FP 25 de Abril. Inclui também a Al-Qaeda no grupo do “terrorismo comunitário”, o que, mesmo que se admita a sua tipologia, não me parece aceitável.)

Para PVG o que é essencial na atitude mental dos terroristas é a capacidade de “decidir”, ou seja, segundo PVG, de “errar”:

"Bem vistas as coisas, todas as decisões são um salto no escuro, uma catástrofe entre pensamento e acção: a gente hesita, pensa, pesa “os prós e os contras” e, de repente, decide. Quando se decide, abdica-se de continuar a pensar. Uma decisão é sempre a decisão de ignorar vários aspectos da realidade e a complexidade real de qualquer situação. Deste modo, ao decidir, erra-se – sempre. Não há, por definição, decisões acertadas. Quem quer à viva força acertar, acaba por não decidir nunca porque é impossível ter a certeza de que se está a decidir bem. A história é feita por quem decide, ou seja, por quem escolhe uma opção (errada) e depois a negoceia ou enfrenta as suas consequências. "

Conclui, “a história é dos “loucos”, ou seja, a história move-se com base numa irracionalidade fundamental, a história é irracionalidade. Também aqui não saímos de um modelo nietzschiano e de uma interpretação do terrorismo muito comum no século XIX e no princípio do século XX.

(Continua)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]